RE-INVENÇÃO DE NÓIS

 

Por Altemar Di Monteiro

Coordenação Nóis de Teatro

Um grupo nasce em 2002 e consegue se manter vivo por 18 anos. Numa eterna busca por sua identidade, passa por diversos lugares, ambientes, texturas, cores, conceitos e perspectivas... num devir constante... em eterna transformação.

 

Sua primeira identidade é como grupo. Grupo Nóis de Teatro. Da Comunidade Católica de Granja Lisboa. Afirmar-se como grupo vem de nossa formação política e social, movimento de jovens. Na periferia. Sim, grupo de teatro da periferia da cidade. Do bairro. Em 2002. Num contexto de produção cultural em que o legítimo e confiável vem dos centros das branquitudes, num contexto em que as políticas culturais mal entendiam de que a arte também toca nas questões de cidadania. E não há problema nenhum nisso. Afirmar-se como grupo... afirmar-se como periferia

 

Mas a palavra grupo já não dá mais conta desse projeto político e se faz necessário se afirmar como artista de teatro... A emancipação da igreja católica se deu para nos afirmarmos apenas como grupo de teatro, como atuadores, como sujeitos criativos que transformam a vida em cena, destituem o palco em nome da rua, se lançam ao abismo da invenção de si. Puro teatro... Nóis de Teatro.

 

Mas não demorou muito para entendermos que afirmarmos teatro é afirmar a vida, pois é ela que está no cerne da nossa produção. A ideia de arte e vida passa a ser então algo mais que importante, fundamental para pensar nas construções, sempre moventes, das identidades desse grupo... desse grupo não, dois oito grupos que habitam os corpos dos oito artistas que participam do Nóis de Teatro. Cada um de nós somos um grupo, cada um de nós somos um Grupo Nóis de Teatro... com tantas histórias, perspectivas e ideias que, juntas, se somam, multiplicam e evocam outras existência...

 

Então, aqui, hoje, nesse tempo do sufoco da produção individual... nesse tempo em que nos esforçamos diariamente para remar contra a maré e permanecermos juntos, afirmamos nosso encontro, nosso desejo, nossa partilha... rumo a um processo de grupo que não ceda ao imperativo do empreendedor individual mas que ainda assim reafirme a potência do que é cada um de nós.

 

“Nóis” não é mais apenas sobre um grupo, “Nóis” não é mais apenas sobre teatro. “Nóis” é sobre uma ideia, um projeto de vida. Nóis é sobre um pensamento que vive e se levanta para o mundo, lembrando-nos da utopia de coletividade e de que há algo de muito dinâmico que sai do que entendemos por cena para tocar na própria vida. “Nóis” é sobre indivíduos que, juntos, reelaboram suas potências. “Nóis” é sobre a própria vida.

 

Serviço:

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