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PEGADAS EM MÁRMORE, SONO DAS CÂMERAS / Por Rômulo Silva

Posted by Nóis de Teatro On 16:50 2 comments



“Tumultos que mal nasceram da vertigem.

Enxurrada imóvel.

Ecos que caem.

Um tronco recorda-se nos bordos do sol, obstinação inerte mas ardente.

[...] Uma única paisagem, de onde todo o nome se evaporou”

 

(Édouard Glissant, “Poética da Relação”, 2011)

 

 

 

.esse tempo-colonial é o tempo das banalidades. Das raízes apaixonadas por si mesmas.

 

[no meu spotify toca Racionais MCs:

 

“[...] Não joga pérolas aos porcos irmão,

joga lavagem eles prefere assim,

se tem de usar piolhagem!”

 

a encruza com a rua é a do saber opaco. Saraus, bailes-de-reggae, rolezinhos, mas também arquiteturas do corpo-teatro, corpo-biblioteca. É valendo, é de-vera. Os cria da rua são como pássaros-pardais [inumeráveis]. Não desejam sabotar nada. Eles são Sabotage. Não há escola, ponta-de-lápis. Há correria. Tinta pele-preta na carne-viva, grito-calado por metro-quadrado, festa-interminável. Invenção-inesgotável. Sem tempo para abstração, compreensão, explicações.

Salve, salve as mais velhas! A Seu Zé Pilintra que “vem na linha das almas e também na encruzilhada”.

 

um-salve

 

.aos que confiam

desconfiando.

 

Eu gosto é de rir na/da cara da morte que é o ser-enquanto-ser, suficiente para si. Saúdo a morte que deságua nas incompreensões, neste abismo não me sinto abandonado. Por isso, escrevo, apago. Escrevo, apago. Borrar o que foi borrado. A poética da rua é a da incompreensão, é não sair ileso de um encontro - quaisquer encontros. Como acontecimento caminhante, os cria copiam, não dormem. Sua energia não tem limites e seu isolamento é total e absoluto.

 

Viva as escrituras que não estão a serviço de qualquer coisa que se apóia no medo, na condescendência e na esperança. Mas fere a carne-branca do papel e das telas-luminosas para atazanar o Mundo-Branco, contrariar a todes que se encontram acomodades nele e fazer desses lugares algo vergonhoso.

 

dedico a ele. O sorriso que não cai. Os quadros das memórias que não se evaporam, diz.

 

Por toda poética da rua que habita àqueles que sabem voar:

 

Cícero

 

pivetada-toda ali na vila das memórias inventam deus.

 

.tem.po-ética dos encantes.

 

indo para escola gazeiam-aula

pulam muros. Das árvores espiam mundos.

.comem jambo colhido de galhos-magros

das casa-alheia, dos alheios-olhares.

 

.com rapidez-silenciosa escalam possíveis.

.pulam abismos do próprio corpo.

sem amarras

.arrancam pés do chão y flutuam aos ventos

 

[Cícero voou por entre as folhas y não mais voltou]

 





2 comentários:

Nuh! Que texto maravilhoso, Rômulo!

é Nóis, irmão.
Sempre bom te encontra nas Encruza, nessas idéias.

Abraços-possíveis

rômulo-silva

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