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DA PERIFEIRA PARA O CAMPO: DIÁLOGO ENTRE TRADICIONAL E CONTEMPORÂNEO

Posted by Nóis de Teatro On 04:17 No comments


O Nóis de Teatro é um Grupo de Teatro de Rua que existe há 08 anos pesquisando e montando espetáculos em Fortaleza, tendo provado que é possível desenvolver um trabalho artístico-cultural de qualidade na periferia com base no estudo sobre as manifestações populares tradicionais e contemporâneas.

Dentro do seu processo formativo, o Grupo tem pesquisado as relações existentes entre cultura, tradição e campo, tendo se aproximado da experiência de ação cultural do Projeto Arte e Cultura na Reforma Agrária, desenvolvida pelo INCRA - CE, que articula vários grupos de reisado, teatro e dança das áreas de assentamento. Segundo Altemar di Monteiro, coordenador do Nóis de Teatro, esse trabalho, como um todo, tem mostrado que a arte que vem das margens está em efervescência cultural e que estas populações almejam o reconhecimento como produtoras de cultura, que se afirmam em seu território e dialogam com o mundo.

Através da parceria efetiva com o Projeto Arte e Cultura na Reforma Agrária e da COMOV – Comunidade em Movimento da Grande Fortaleza, o grupo aprovou, junto ao Premio Myriam Muniz, da FUNARTE, o Projeto Reis do Sertão, que veio dar continuidade a esse processo formativo de pesquisa, que terá como resultado a montagem de um espetáculo teatral de rua, com estréia prevista para agosto desse ano. Com direção geral de Murillo Ramos, profissional referência no teatro de rua cearense, e elenco formado por Altemar di Monteiro, Bruno Sousa, Jonas de Jesus e Kelly Enne Saldanha, o grupo está em processo intenso de pesquisa, visitando comunidades rurais de assentamentos de reforma agrária onde a manifestação do reisado se faz presente. No processo de pesquisa, o grupo conta ainda com a assessoria de Orlângelo Leal e Silma Magalhães, pensadores sobre tradição e reforma agrária, no Ceará.

De Canindé, Madalena e Miraíma à Várzea Alegre, onde o grupo visitou no ultimo dia 10, domingo, o Assentamento Olho Dágua, passando um dia de interação, intercâmbio e pesquisa com o reisado de congo da comunidade. Através da articulação de Francisco Evanildo, Assistente Executivo da Prefeitura de Várzea Alegre, o grupo pôde conversar com a comunidade, entendendo as suas relações com a terra e a sua devida conquista em 1996. Mesmo com a tensão com a possibilidade de chuva, à tarde o grupo vivenciou uma oficina ministrada pelo Mestre Orlando e pelos brincantes do reisado, onde o Nóis de Teatro pôde sentir fisicamente as danças, músicas e encenações do reisado de congo de Olho D’água. À noite, a comuidade toda se reúniu para ver o brinquedo e divertir-se com as “gaiatices” de Mateus (Seu Boré), Anastácio (Mestre Orlando) e a doida (Contra Mestre Francisco).

Sobre os reisados
Os reisados, como aparecem no Ceará, são folguedos que incluem dança, teatro, música e expressões plásticas, em apresentações que variam de duas a seis horas de duração, com grande riqueza de quadros dramáticos, constituindo-se, talvez, a mais completa e complexa expressão de nossa cultura cênica popular. Acontecem durante o ciclo natalino, em várias modalidades (reisados de caretas, de congos, de bailes, de caboclos etc.), como uma reedição da ida dos Reis Magos a Belém. Trata-se de manifestação cultural tradicional, de extração oral, estreitamente ligada à vida comunitária, que passa de geração em geração, renovando-se permanentemente. Sua riqueza evidencia-se na reunião de traços culturais de diferentes procedências, onde se destacam as contribuições afros, ibéricas e indígenas.

Para Altemar di Monteiro, a ação do Projeto Reis do Sertão, além de dar um foco à importância dessas manifestações culturais, enquanto patrimônio imaterial, discute também como relevante o fato delas estarem situadas em assentamentos da reforma agrária, partindo desse pressuposto para a encenação.


O espetáculo teatral Reis do Sertão está sendo construído de forma coletiva, através do trabalho de campo, pesquisando e estudando intimamente os assentamentos envolvidos e trazendo nas suas referências a questão da reforma agrária no Ceará, levantando questões pertinentes tais como o êxodo rural, as influências do meio urbano sobre o campo, a sustentabilidade das iniciativas campesinas, a qualidade de vida, o capitalismo e, principalmente, a luta pela terra, fazendo um diálogo constante entre o tradicional e o contemporâneo, entre o conhecimento dos mais velhos e a curiosidade dos mais novos.

O processo de montagem do espetáculo prevê a pesquisa, com viagens de campo aos assentamentos envolvidos, montagem e circulação, quando o grupo retornará, em agosto, para as comunidades visitadas.

Sobre Reisado do Congo, do Assentamento Olho D’água, em Varzea Alegre

A criação do Assentamento de Olho D’água, que fica há 30 km da zona urbana de Várzea Alegre, foi idealizado pelo agricultor Luiz Gonzaga Ferreira, já falecido. Implantado em 1996, reúne 21 famílias de pequenos produtores rurais.

Os descendentes do mestre Zé Santana, filhos e netos, resgataram a cultura do Reisado Congo, após dez anos de paralisação dos trabalhos. O reisado do assentamento Olho Dágua teve início em 2004 e hoje conta com cerca de 18 brincantes, crianças e adultos, entre irmãos, primos e cunhados.

Músicos, cantores e dançarinos acompanham o reisado, que é composto de várias partes, como a abertura ou "abrição" de porta, a louvação ao Divino, as chamadas do rei, as peças de sala, as danças, a guerra, as sortes e o encerramento da função - quando as ruas são percorridas nas cidades ou comunidades rurais, de porta em porta, anunciando a chegada do Messias.


Para Maiores Informações

altemargm@yahoo.com.br
(85) 8720.1135 – Altemar di Monteiro (Nóis de Teatro)
(88) 9215.7959 – Evanildo (Várzea Alegre)

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