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Análise Crítica ao Espetáculo "O que mata é o costume!"

Posted by Nóis de Teatro On 05:21 No comments

Análise Crítica ao Espetáculo "O que mata é o costume!" feita por Jonas de Jesus.



"Trago minha contribuição a partir de um olhar de dentro do espetáculo, visto que faço parte do elenco técnico.

O político/estético.

O espetáculo O QUE MATA É O COSTUME do grupo NÓIS DE TEATRO, da comunidade da Granja Portugal é um espetáculo para amar ou odiar. A partir de uma estrutura estética baseada na idéia de um teatro pós-dramático tenta possibilitar uma visão de se pensar o teatro de rua concebendo assim outras formas negadas e/ou não exploradas para a cena de rua. Com o uso excessivo e proposital da tecnologia presente nas TV`s, microfones, câmeras digitais e pequenas caixas de som, tenta trazer para o espetáculo o dia-a-dia de uma sociedade que se funde mais ainda às novas tendências, e é com esse olhar para essas tendências que também explora o mundo das culturas de aglomerações, no caso dos grupos sociais (Roqueiros, Hemos, anarquistas, sociedade católica, sociedade islâmica e etc). Desse modo o espetáculo trava uma dialética com a idéia de uma tradição e um costume para com o teatro de rua. É necessário tanta coisa assim? Isso é teatro de rua? Não saberia aqui responder, pois o espetáculo é realmente uma estranheza à primeira vista, mas digo que funciona sim e causa curiosidade.

Da mesma forma que pensamos da necessidade de ser teatro de rua, pensamos também que a tecnologia num teatro de rua deve ter uma necessidade, não somente estética, mas necessidade real, que depende DE, e para isso é preciso que os velhos costumes tradicionais do teatro de rua precisem ser modificados tal qual Brecht descreve no texto “aquele que diz sim, aquele que diz não”, no qual deu origem esse espetáculo, mas de acordo com a cosmovisão africana, sem negar os ensinamentos já conquistados http://jonasdejesus.blogspot.com/. Penso que O QUE MATA É O COSTUME exista essa necessidade estética e política, pois as engrenagens colocadas em cena trazem uma crítica à elas próprias no caso das TV`s.

O texto/contexto.

O espetáculo tenta se assemelha ao que Brecht trás quando pensa a cena de rua em seu teatro épico num acontecimento narrativo, como mostra no trecho seguinte:

A testemunha ocular de um acidente de transito demonstra a uma porção de gente como se passou o desastre. O auditório pode não haver presenciado a ocorrência, ou pode, simplesmente, não ter um ponto de vista idêntico ao do narrador, ou seja, pode ver a questão de outro ângulo; o fundamental é que o relator reproduza a atitude do motorista ou a do atropelado, ou a de ambos, de tal forma que os circunstantes tenham possibilidade de formar um juízo crítico sobre o acidente. (Brecht, Bertolt - estudos sobre teatro, edi.2)

Neste ponto, se por um lado o espetáculo no primeiro ato traz somente a idéia de inocência do oprimido enquanto explora a crueldade do opressor dando ao público uma forte empatia com a personagem que sofre, já tomando partido e formando assim uma opinião crítica da situação, por outro lado ele vai trazer uma confusão na cabeça do espectador, com exibição de vídeos clipes propositando uma quebra constante da linearidade textual forçando o público presente a fazer conexão com a cena.
Quando começa uma ação na primeira cena e na segunda se segue outra completamente diferente e depois começam uma terceira e uma quarta, isso é divertido, agradável, mas não é mais a peça perfeita. (Lehmann, Hans-Thies – Teatro pós-dramático, edi.2007)

As cenas do espetáculo ainda têm certa linearidade, mesmo com as quebras promovidas pelos vídeos clipes, mas traz, na sua essência, essa idéia de quebra, de outra coisa, de perder o espectador para que ele mesmo se encontre e faça suas conexões.

O segundo ato segue com o desenho da historia contada, esse é o momento em que o público de fato consegue compreender melhor. O discurso narrativo que traz o primeiro ato ainda é presente e pouco se justifica a crueldade com quem a mãe trata suas filhas, enquanto que as filhas sempre são acompanhadas por narrações que justificam os meios por quais atitudes foram tomadas.

É importante dizer que minha intenção aqui não é de enquadrar o espetáculo em nenhuma idéia estética de espetáculo, mas é de tentar trazer elementos que por questões de uma base que é o pós-dramático o espetáculo assume ou não assume algumas questões, ou quer assumir, mas não consegue.

O elenco.

Vejo o espetáculo com grandes possibilidades de jogo, de interação de fato com o público, mas o elenco ainda esta preso a uma forma, transparece um medo de errar e uma insegurança com possíveis imprevistos, muitas cenas precisam ser assumidas, principalmente as cenas em que se quer passar certa realidade em que agora são as atrizes e atores que estão jogando com a platéia como, por exemplo, o flach mob, que pode ser feito com elenco no meio da platéia, a dança sensual das atrizes do primeiro ato (keli e Amanda), o erro do DJ Jefferson na primeira musica das noivas, a entrada da atriz Angélica narrando a mãe, o samba na hora que a Edna vai mudar a roupa, os intervalos, da novela e da cena do vestido longo.

Conclusão

Por fim, o espetáculo O QUE MATA É O COSTUME é um grande experimento de novas possibilidades de conceber esse teatro de rua, e como experimento não é descartável, é sim questionável para se refazer sempre. É bom ter trabalhos ousados como esse e grupos que se proponham a fazê-lo, Grupo Nóis de Teatro, boa caminhada.

Jonas de Jesus
Fortaleza, 28, de abril de 2011"

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