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PARA QUE SERVEM AS ARMAS?

Posted by Nóis de Teatro On 07:23 2 comments

REFLEXÕES SOBRE O USO DE ARMAS
Por Henrique Gonzaga

Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas) existem cerca de 600 milhões de armas de fogo no mundo. Desse total, 360 milhões circulam ilegalmente, essas armas são responsáveis pela morte de pelo menos 500 mil pessoas por ano no mundo. Com esses poucos, mas expressivos dados, perguntamo-nos de onde vem essas armas? Por quem elas são usadas?

Os tipos de armas são muitas, brancas, de fogo, química entre outras, essa grande variedade facilita o uso e a impunidade de quem usa sem autorização. Um homem pode ter uma faca de uso doméstico, ele pode não ter a intenção de machucar ninguém, mas em momento de discussão com a esposa ou um vizinho, aquela faca que era apenas de uso doméstico passa a ser uma arma letal. Esse é um dos casos mais vistos nos telejornais: cidadãos que cometem um crime pelo simples fato de ter uma arma nas mãos na hora errada.

Muitos pensam que quando se fala em arma, só se refere a revolveres, metralhadoras, fuzis entre outros, mas se enganam, pois ao andar portando uma faca a pessoa pode ser detida por porte ilegal de arma como diz o texto: pela Lei das Contravenções Penais e legislações sequentes (Código Penal, Dec. Lei nº2.848, de 1940) e o Art. 19 da LCP reza que "trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta sem licença da autoridade..." constitui contravenção penal, comumente denominada de porte ilegal de arma. Lembrando que qualquer tipo de faca ou canivete que possua uma lamina com dez centímetros de comprimento é considerada uma arma, logo proibido o porte sem autorização.

Vejo a arma como um objeto de julgamento. Quem tem uma arma na mão tem o poder de julgar se alguém fica ou não vivo. Ter o poder sobre a vida de alguém sempre seduziu o homem, desde os grandes reis da antiguidade, que possuíam o controle de corpos e mentes, até ditadores que, de uma forma truculenta, dominavam esses corpos e mentes. Tendo um dos maiores objetos de opressão nas mãos fica mais fácil dominar o outro e esse dominado pode vir a ser dominador, por que a facilidade de se comprar uma arma lhe dá esse direito. No fim da história teremos o mesmo resultado, mortos e feridos.

Um dos outros fatores apontados para a grande procura de armas é o status que esse objeto dá a uma pessoa. A pesquisadora Silvia Ramos, do Centro de Estudo de Segurança e Cidadania, no Rio de Janeiro, lançou um estudo que diz que: “a informação mais repetida, confirmada, explicada e reassegurada- e ainda assim surpreendente e obscura- é a supremacia das armas para “atrair” mulheres, meninas bonitas, da favela, de fora e até de outra classe social. As chamadas “Maria Fuzil” – que seriam as atuais representantes das “Maria Gasolina”, que no passado, dizia-se, só se interessavam por rapazes com carros – estariam sempre presentes na vida da boca de fumo, especialmente durante os bailes funk e muitas vezes foram definidas como a maior razão para explicar o fascínio que os grupos ilegais e as armas exercem sobre crianças, adolescentes e jovens.”

Essa questão é bem pertinente, em uma sociedade onde os moradores das periferias estão sempre sendo julgados pela sua condição, uma forma de elevar sua “popularidade” é sempre atrativa. Acredito que tudo isso começa com a falta de alta estima, ser pobre, subjugado por todos e inconsequentemente ser marginalizado já são motivos para se ter uma baixa estima.

Imagine um adolescente que teve poucas oportunidades na vida, família desestruturada, pouca informação, ao comprar uma arma passa a ser popular, passa a ser cobiçado por mulheres, ou seja, todos os seus problemas passam a estar resolvidos. Ele agora está provando de um poder que nunca imaginou que poderia ter.

Claro que não podemos atribuir a grande problemática do uso ilegal de armas, somente às comunidades carentes, temos muitos exemplos de pessoas de classe social elevada, que estão envolvidas com o uso de armas. Quem não lembra do caso que aconteceu em abril de 2011, em Realengo, no Rio de Janeiro. Wellington Menezes, um jovem da nova classe média, entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira e começou a descarregar dois revólveres nos alunos. Após as investigações foi descoberto que Wellington comprou os dois revólveres, um de calibre 38 e o outro de calibre 32, no mercado informal, ou seja, ele não teve problemas para comprar as armas e tirar a vida de 11 crianças e deixar 13 feridas.

Certo que esse caso chamava a atenção para outro problema, o do bullying nas escolas, mas o fato de um rapaz conseguir, com grande facilidade, os instrumentos de sua vingança também chama a atenção, Wellington foi o juiz de todas aquelas crianças, ele decidiu quem iria ou não viver, afinal, ele tinha nas mãos instrumentos para isso.

Falar sobre arma, vivendo em uma sociedade que é amedrontada pela violência parece ser fácil, mas se mostra como na realidade, um assunto delicado e intocável. A arma se mostra como objeto opressivo, que destrói, degrada e apavora a sociedade, sendo autorizada ou não, a arma continua com o seu poder de matar e essa é a grande pergunta, quem tem o direito de manipular um instrumento que pode tirar a vida de alguém? Essa pergunta ainda me incomoda e creio que vai continuar me incomodando por muito tempo, afinal, enquanto você lia esse texto milhares de armas foram vendidas ilegalmente e milhares de vidas foram tiradas por essas armas no mundo.

O PODER DE UMA ARMA
Por Kelly Enne Saldanha

Qual será o papel que uma arma tem em nossa sociedade? Pra que ela foi criada? Quem ganha com o poder que a arma trás? De que armas estamos falando?

Todas essas são questões muito difíceis de responder por que é algo já existente em nosso meio há muito tempo, hoje em dia até de maneira banal. O uso da arma vem desde muitas gerações e sua modernização só demonstra uma falta de maturidade social para o uso das mesmas. Mas não são somente as armas de fogo que matam, principalmente hoje em dia onde o desrespeito e a intolerância falam mais alto. As questões sociais aumentam ainda mais essa carência de tolerância e respeito.

Desde os primórdios da sociedade que as armas são símbolos e atuam em diversas esferas da sociedade. Podemos vê-las em lados antagônicos, principalmente em relação à segurança. Ao mesmo tempo em que está relacionada à segurança, está também relacionada a falta dela. Desde sua criação, a arma está relacionada a poder. O poder de matar, de trucidar, de amedrontar, de oprimir. As armas determinam status, e quanto maior e “melhor” for, mais status terá o sujeito que a detém.

A arma foi criada simplesmente para oprimir? Se for assim, quem a tem, tem o poder de opressão. Mas qual a real necessidade que se tem de oprimir? Qual a real satisfação que se tem na opressão?

São questões recorrentes e muito mais que isso, são questões pouco discutidas! A arma e sua intrínseca ligação com a opressão é de grande valia para analisarmos essa questão que é social. O homem tem a necessidade de se firmar e, para tanto, o uso de arma, com toda a simbologia se faz necessário. A necessidade de se ter um tipo de respeito, de causar medo, apreensão, opressão. E passamos por isso o tempo todo, e nas duas vertentes. Na hora que somos opressores, somos oprimidos também.

Mas as armas que falamos saem de um patamar muito mais pessoal do que se imagina. Ao passo que utilizamos da arma pra oprimir, o uso da arma é uma maneira de se sair desse estado de opressão. É uma tentativa questionável de libertação da situação de opressão. Ou não uma libertação e sim uma mudança de estado. Uma hora era oprimido, depois se torna opressor. Essa necessidade que há em se ter o poder, traz uma série de reflexões acerca de características e costumes de uma sociedade.

Mais que as armas de fogo que frequentemente falamos, há também as armas sociais. Aquelas armas que nos impedem de agir com respeito e tolerância, características essas que são muito importantes na hora de se relacionar um com o outro. A agressividade constante banaliza ainda mais a utilização das armas. Seu uso desenfreado, o comercio ilegal e a fácil circulação contribuem para essa banalização. O mais impressionante é que mesmo circulando de maneira ilegal, qualquer pessoa em qualquer feira livre encontra pra vender com os mais variados preços e tipos. Assim, facilitando ainda mais para as tragédias que acontecem corriqueiramente. Mas como acabar com essas armas? Ou melhor, como acabar com o uso indiscriminado? É uma questão que envolve vários âmbitos sociais, tais como educação, segurança pública, empregos etc, etc, etc.

Se tivéssemos os direitos básicos garantidos, estaríamos vivendo outra realidade. A educação como base de toda uma sociedade, tem grande responsabilidade. E não só uma educação escolar, mas uma educação familiar também. A presença de um responsável que ensine, que dê exemplo, que cuide, que oriente, faz parte da formação de nossas crianças que podem vir a ter futuros diferentes.

A banalidade onde estamos inseridos traz muitas consequências negativas. Os jornais policiais não têm nenhum tipo de censura e mostram seus cadáveres em pleno horário de almoço. O número de mortes crescente é o grande alvo de reportagens e críticas espetaculosas em um horário onde nossas crianças estão em casa. Isso nos faz questionar da necessidade desse tipo de jornalismo e ainda mais, da responsabilidade com que se fala sobre essas questões no horário e da maneira que são apresentados. Cada dia que passa as atrocidades ficam ainda piores e superá-las está cada vez mais difícil. Cultivamos o costume da violência e o uso das armas segue esse parâmetro. A ligação arma/violência é muito estreita. Tudo está relacionado e o aumento de um, implica no maior uso do outro.

Mas não é só o uso de armas que estabelece a violência. É um conjunto de fatores que fazem com que esse número aumente ainda mais. Banalização, desrespeito, comércio ilegal, a falta de direitos básicos, a necessidade de manter relações de opressão, de se ter poder, tudo isso contribui para chegarmos nesse patamar.

Violência não se acaba com violência, se acaba com mais educação, mais oportunidades, mais direitos atendidos. Acaba-se com relações saudáveis, diálogos e principalmente com mais respeito. Respeito pela experiência, pela diferença, pela discordância, pela pluralidade. Precisamos mudar, para mudar.

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