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NÓIS DE TEATRO REALIZA INTERCÂMBIO COM GRUPO DEU ZEBRA, EM ALTO SANTO-CE

Posted by Nóis de Teatro On 10:23 1 comment

Por Henrique Gonzaga e Kelly Enne Saldanha






Após uma longa viagem de quase cinco horas, chegamos no Assentamento de Ipanema, em Alto Santo. Lá, o grupo Deu Zebra no Teatro já nos esperava vestidos e maquiados para apresentar o seu espetáculo, foi aí que começou a nossa experiência com os meninos de Ipanema.
Eles apresentaram o espetáculo “Um Zé qualquer também ama: as aventuras de Pedro Malazerte.” Durante o espetáculo fomos surpreendidos pelo talento e domínio da roda que os meninos do Deu Zebra tem. Desde então ficamos ansiosos pelo momento da vivência, já que, podemos perceber que ia ser muito bom para ambos os grupos.
Pela manhã acordamos cedo e logo partimos para a escola onde aconteceria a vivência. Tínhamos todo um momento preparado com atividades, conversas e debates sobre a realidade dos dois grupos e do meio em que os dois estão inseridos.
Começamos a vivência ao som de coco, maracatu e ciranda. Com o ator do Nóis Jefferson Saldanha e o ator Jonas de Jesus nos instrumentos, começamos a nos organizar e ter as primeiras conversas com o grupo, após isso sentamos em roda para começar aquele momento que já prometia muita coisa.
Os responsáveis pela vivência, Kelly Enne Saldanha e Henrique Gonzaga, estavam ansiosos pra trocar experiências com aquele grupo, que apesar da sua grande maioria ser muito jovem, mostravam uma experiência muito grande no seu fazer teatral e na sua vida em comunidade, sem falar no talento demonstrado em cena.
Falamos sobre a história do Nóis, desde o começo, passando pela montagem dos primeiros espetáculos, das dificuldades encontradas nos primeiros anos, dos perrengues das apresentações, etc. Enquanto íamos falando, os componentes do Deu Zebra iam fazendo perguntas, em especial a atriz Andreza Santos, que queria saber de tudo. Andreza se mostrou uma menina de 17 anos preocupada com o que ela intitula de grande amor: o teatro. As dúvidas eram muitas, como foi no começo, como era a convivência em grupo, como eram a relação dos integrantes do Nóis fora do espaço teatral, entre outras. Como percebemos que as dúvidas que eles tinham sobre a gente eram as mesmas que nós tínhamos deles, começamos a devolver as perguntas e instigar eles a falarem sobre as suas experiências.
O diretor do grupo, Ivo Nogueira, falou de como foi o começo do grupo. O Deu Zebra no Teatro nasceu em 2008, com o intuito de participar do Festival Escolar de Teatro de Alto Santo. Aquele primeiro contato com o teatro foi muito importante, para eles que tinham uma vontade de mostrar que existe sim uma arte de qualidade feita por assentados.
Após a primeira apresentação, os integrantes do grupo decidiram que tinham que continuar fazendo teatro, como Ivo mesmo disse: “o teatro é uma grande diversão pra gente. Não teríamos continuado se não conseguíssemos nos divertir até hoje”.
Nesse ponto encontro mais uma afinidade com o Deu Zebra, o Nóis de Teatro tem como lema gritado antes das apresentações, “vamos nos divertir em cena”. Como eles, acreditamos que o fazer teatral é uma diversão séria.
No decorrer da conversa começamos a instigar eles a falarem como era o dia-a-dia do grupo no assentamento, quais as dificuldades que eles enfrentavam e como é funcionamento do grupo.


A atriz Bruna Lima nos disse que, no começo, o grupo enfrentou muito preconceito: “as pessoas tinham e ainda tem muito preconceito com a gente, inclusive as nossas famílias”. Bruna continuou falando que as famílias demoraram a incentivar, mas estão começando a ver o quanto o teatro tem mudado a vida deles.
No decorrer da conversa chegamos em um ponto que se mostrou delicado tanto na periferia como no campo, o incentivo financeiro. O pessoal do Deu Zebra se mostrou muito ativo, preocupado com o futuro do grupo e da comunidade, mas se questionam como isso vai se dar. Uma das maiores preocupações é a questão financeira, não só da parte estrutural do grupo, mas do ponto de vista da vida mesmo. Andreza Santos disse que com o crescimento dos integrantes vem o medo de perdê-los. Segundo Andreza, a família começa a cobrar que os filhos ajudem financeiramente nas despesas da casa e aí chega o problema que o Nóis na periferia de Fortaleza também enfrenta: como fazer com que os integrantes dos grupos permaneçam com as pesquisas, com o fazer teatral e possam ser remunerados pela sua arte?
Ampliamos o debate sobre o assunto, passamos um pouco da experiência do Nóis, de incentivar todos os integrantes a produzir as coisas do grupo, seja em editais, em produções com as comunidades ao redor, elaborando projetos relacionados ao grupo, enfim, fazer com que o grupo possa dar condições de seus integrantes permanecerem juntos e cumprir os seus compromissos financeiros no fim do mês. O Nóis ainda está na caminhada para isso, mas já começa a ver que, com muito trabalho e dedicação, é possível chegar a esse patamar.
O papo continuava, eu já preocupado com tempo que tínhamos para fazer tanta coisa, percebemos que aquela troca estava fluindo de uma maneira que não era a que tínhamos planejado, mas estava sendo tão bom que decidimos cancelar os exercícios e continuar com a conversa.
O Deu Zebra continuava nos mostrando a realidade teatral do grupo no assentamento e nós as nossas dificuldades na periferia de Fortaleza, com isso passamos a debater que soluções poderíamos encontrar pra essas dificuldades. Esse debate vai ser ampliado no II Encontro da Periferia e do Campo, onde o Deu Zebra no Teatro vai participar com o espetáculo “Um Zé qualquer também ama: as aventuras de Pedro Malazerte.” Passamos então a falar sobre a proposta do II Encontro da Periferia e do Campo para eles. A idéia de juntar grupos da periferia e de assentamentos de reforma agrária, como é o caso deles, com o intuito de conhecer outros grupos, trocar experiências e debater sobre a arte que vem das margens, deixou eles encantados e ansiosos pelo momento. Quando olhamos para o relógio já passava do meio-dia e tivemos que encerrar a vivência, pois tínhamos mais uma longa viagem até Fortaleza. O momento foi tão bom que não percebemos que o tempo tinha passado.



Para encerrar, dissemos que tínhamos planejado alguns exercícios para fazer com eles, mas que por conta do papo que batemos não daria mais tempo faze-los e Ivo Nogueira disse que aquele papo, aquela troca de experiência foi muito importante para todos e que depois poderíamos combinar uma oficina mais técnica. Para encerrar o momento Jefferson e Jonas, com a ajuda de Paulo Sérgio e Samuel Bessa, do Deu Zebra no teatro fizeram mais uma rodada de música para nos despedirmos.
Nos despedimos do Assentamento de Ipanema com a sensação de mais um ciclo de amizades feita. Um grupo que se mostrou especial pela sua luta, pela sua vontade de fazer teatro e o mais importante: a vontade de seguir mudando as suas vidas com a arte.

Saiba mais sobre o Grupo Deu Zebra no Teatro: Clique aqui

1 comentários:

Foi Muito Bom Essa Vivência, Encontro Vocês em Canindé no "II Encontro da Periferia e do Campo"

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