Por Henrique Gonzaga e Kelly Enne Saldanha
Após
uma longa viagem de quase cinco horas, chegamos no Assentamento de Ipanema, em Alto Santo. Lá , o
grupo Deu Zebra no Teatro já nos esperava vestidos e maquiados para apresentar
o seu espetáculo, foi aí que começou a nossa experiência com os meninos de Ipanema.
Eles
apresentaram o espetáculo “Um Zé qualquer também ama: as aventuras de Pedro
Malazerte.” Durante o espetáculo fomos surpreendidos pelo talento e domínio
da roda que os meninos do Deu Zebra tem. Desde então ficamos ansiosos pelo
momento da vivência, já que, podemos perceber que ia ser muito bom para ambos
os grupos.
Pela
manhã acordamos cedo e logo partimos para a escola onde aconteceria a vivência.
Tínhamos todo um momento preparado com atividades, conversas e debates sobre a
realidade dos dois grupos e do meio em que os dois estão inseridos.
Começamos
a vivência ao som de coco, maracatu e ciranda. Com o ator do Nóis Jefferson
Saldanha e o ator Jonas de Jesus nos instrumentos, começamos a nos organizar e
ter as primeiras conversas com o grupo, após isso sentamos em roda para começar
aquele momento que já prometia muita coisa.
Os
responsáveis pela vivência, Kelly Enne Saldanha e Henrique Gonzaga, estavam
ansiosos pra trocar experiências com aquele grupo, que apesar da sua grande
maioria ser muito jovem, mostravam uma experiência muito grande no seu fazer
teatral e na sua vida em comunidade, sem falar no talento demonstrado em cena.
Falamos
sobre a história do Nóis, desde o começo, passando pela montagem dos primeiros
espetáculos, das dificuldades encontradas nos primeiros anos, dos perrengues
das apresentações, etc. Enquanto íamos falando, os componentes do Deu Zebra iam
fazendo perguntas, em especial a atriz Andreza Santos, que queria saber de
tudo. Andreza se mostrou uma menina de 17 anos preocupada com o que ela
intitula de grande amor: o teatro. As dúvidas eram muitas, como foi no começo,
como era a convivência em grupo, como eram a relação dos integrantes do Nóis
fora do espaço teatral, entre outras. Como percebemos que as dúvidas que eles
tinham sobre a gente eram as mesmas que nós tínhamos deles, começamos a
devolver as perguntas e instigar eles a falarem sobre as suas experiências.
O
diretor do grupo, Ivo Nogueira, falou de como foi o começo do grupo. O Deu
Zebra no Teatro nasceu em 2008, com o intuito de participar do Festival Escolar
de Teatro de Alto Santo. Aquele primeiro contato com o teatro foi muito
importante, para eles que tinham uma vontade de mostrar que existe sim uma arte
de qualidade feita por assentados.
Após
a primeira apresentação, os integrantes do grupo decidiram que tinham que
continuar fazendo teatro, como Ivo mesmo disse: “o teatro é uma grande diversão
pra gente. Não teríamos continuado se não conseguíssemos nos divertir até
hoje”.
Nesse
ponto encontro mais uma afinidade com o Deu Zebra, o Nóis de Teatro tem como
lema gritado antes das apresentações, “vamos nos divertir em cena”. Como eles,
acreditamos que o fazer teatral é uma diversão séria.
No
decorrer da conversa começamos a instigar eles a falarem como era o dia-a-dia
do grupo no assentamento, quais as dificuldades que eles enfrentavam e como é
funcionamento do grupo.
A
atriz Bruna Lima nos disse que, no começo, o grupo enfrentou muito preconceito:
“as pessoas tinham e ainda tem muito preconceito com a gente, inclusive as
nossas famílias”. Bruna continuou falando que as famílias demoraram a
incentivar, mas estão começando a ver o quanto o teatro tem mudado a vida
deles.
No
decorrer da conversa chegamos em um ponto que se mostrou delicado tanto na
periferia como no campo, o incentivo financeiro. O pessoal do Deu Zebra se
mostrou muito ativo, preocupado com o futuro do grupo e da comunidade, mas se
questionam como isso vai se dar. Uma das maiores preocupações é a questão
financeira, não só da parte estrutural do grupo, mas do ponto de vista da vida
mesmo. Andreza Santos disse que com o crescimento dos integrantes vem o medo de
perdê-los. Segundo Andreza, a família começa a cobrar que os filhos ajudem
financeiramente nas despesas da casa e aí chega o problema que o Nóis na
periferia de Fortaleza também enfrenta: como fazer com que os integrantes dos
grupos permaneçam com as pesquisas, com o fazer teatral e possam ser
remunerados pela sua arte?
Ampliamos
o debate sobre o assunto, passamos um pouco da experiência do Nóis, de
incentivar todos os integrantes a produzir as coisas do grupo, seja em editais,
em produções com as comunidades ao redor, elaborando projetos relacionados ao
grupo, enfim, fazer com que o grupo possa dar condições de seus integrantes
permanecerem juntos e cumprir os seus compromissos financeiros no fim do mês. O
Nóis ainda está na caminhada para isso, mas já começa a ver que, com muito
trabalho e dedicação, é possível chegar a esse patamar.
O
papo continuava, eu já preocupado com tempo que tínhamos para fazer tanta
coisa, percebemos que aquela troca estava fluindo de uma maneira que não era a
que tínhamos planejado, mas estava sendo tão bom que decidimos cancelar os
exercícios e continuar com a conversa.
O
Deu Zebra continuava nos mostrando a realidade teatral do grupo no assentamento
e nós as nossas dificuldades na periferia de Fortaleza, com isso passamos a
debater que soluções poderíamos encontrar pra essas dificuldades. Esse debate
vai ser ampliado no II Encontro da Periferia e do Campo, onde o Deu Zebra no
Teatro vai participar com o espetáculo “Um Zé qualquer também ama: as aventuras
de Pedro Malazerte.” Passamos então a falar sobre a proposta do II Encontro da
Periferia e do Campo para eles. A idéia de juntar grupos da periferia e de
assentamentos de reforma agrária, como é o caso deles, com o intuito de
conhecer outros grupos, trocar experiências e debater sobre a arte que vem das
margens, deixou eles encantados e ansiosos pelo momento. Quando olhamos para o
relógio já passava do meio-dia e tivemos que encerrar a vivência, pois tínhamos
mais uma longa viagem até Fortaleza. O momento foi tão bom que não percebemos
que o tempo tinha passado.
Para
encerrar, dissemos que tínhamos planejado alguns exercícios para fazer com
eles, mas que por conta do papo que batemos não daria mais tempo faze-los e Ivo
Nogueira disse que aquele papo, aquela troca de experiência foi muito
importante para todos e que depois poderíamos combinar uma oficina mais
técnica. Para encerrar o momento Jefferson e Jonas, com a ajuda de Paulo Sérgio
e Samuel Bessa, do Deu Zebra no teatro fizeram mais uma rodada de música para
nos despedirmos.
Nos
despedimos do Assentamento de Ipanema com a sensação de mais um ciclo de
amizades feita. Um grupo que se mostrou especial pela sua luta, pela sua
vontade de fazer teatro e o mais importante: a vontade de seguir mudando as
suas vidas com a arte.
Saiba mais sobre o Grupo Deu Zebra no Teatro: Clique aqui
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1 comentários:
Foi Muito Bom Essa Vivência, Encontro Vocês em Canindé no "II Encontro da Periferia e do Campo"
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