A pesquisa
estética do Nóis de Teatro não para. Nosso atual projeto de investigação está
localizado em “A Alma encantadora das Ruas”, de João do Rio, obra fundamental
para a reflexão e o entendimento da rua como espaço estético, poético e
político, instigador de produções artísticas. As crônicas de A Alma Encantadora
das Ruas mostram o significado e a própria essência da rua na modernidade. O
homem é sujeito do espaço urbano, sendo ele atravessado, diariamente, pelo caos
da cidade. O homem faz a rua e esta faz o indivíduo. Estamos “flanando” com
João do Rio, a partir de sua obra, nos fragmentos da nossa cidade, no qual o
tipo urbano não é um simples produto de sua variedade, mas a essência que a
constitui.
Como fala
João do Rio: “Para compreender a psicologia da rua não basta gozar-lhe as
delícias como se goza o calor do sol e o lirismo do luar. É preciso ter
espírito vagabundo, cheio de curiosidades malsãs e os nervos com um perpétuo
desejo incompreensível; é preciso ser aquele que chamamos flâneur e praticar o
mais interessante dos esportes - a arte de flanar”.
Através da
observação apaixonada dos espaços arquitetônicos, geográficos, culturais e
econômicos da cidade, o flâneur é capaz de compreender a singularidade poética
inscrita no cotidiano ao tempo que se relaciona de forma crítica, ampliada e
implicada com o discurso que parte dessa observação. O flâneur ressurge aqui
como esse sujeito entregue a uma observação sensível do espaço que lhe cerca,
inquieto com seu olhar crítico, ávido por compreender a imanência poética
inscrita nas arquiteturas, topografias e geografias da cidade. “Ver o mundo,
estar no mundo e permanecer escondido no mundo, tais são alguns dos menores
prazeres destes espíritos independentes, apaixonados, imparciais, que a
linguagem dificilmente pode entender” (BAUDELAIRE, 2010, p. 29). O olhar
flâneur, nesse desafio de linguagem, é capaz de gerar fissuras nas percepções
marcadas por forças capitalísticas, lançando ideias em suspenso, respondidas no
instante-já do contato efetivo com dada comunidade.
Atualizando
esse personagem – se é que ele um dia esteve localizado num tempo único –, a
atitude do flâneur em percorrer os espaços públicos implica um desejo de compreensão
das forças do tempo sobre o espaço e do espaço sobre a noção de tempo,
relacionando melancolia e progresso num ato constante de implosão crítica. O
flâneur é um intranquilo e a flanerie, desse modo, se torna paradoxal.
Este
projeto faz parte da pesquisa de mestrado acadêmico do coordenador do grupo,
Altemar Di Monteiro, bolsista FUNCAP e mestrando em Artes pelo PPGARTES/UFC com
orientação do Prof Dr Hector Briones.
Confira o
resultado dessa investigação inicial.
2 comentários:
Gostei muito do texto. ser junto com a rua né?!
* E a mulher também...
Estou gostando também de todo esse processo de gestação criativa que tem sido publicizado por meio desses vídeos-artes. Bom perceber o grupo em movimento, o que também inquieta e vai, como numa música eletrizante, contagiando para que se amplie a massa dos que desejam expressar algo mais pelas ruas, a céu aberto...
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