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CHOVE CHUVA! CHOVE SEM PARAR! NÓIS DE TEATRO NO ASSENTAMENTO SANTANA, EM MONSENHOR TABOSA -CE

Posted by Nóis de Teatro On 09:57 No comments

Por Jonas de Jesus

Partimos para o assentamento Santana no dia 24 de maio de 2013 em busca de mais uma aventura e múltiplas vivencias pelos assentamentos de reforma agrária do estado do ceará, para apresentação do espetáculo SERTÃO.DOC nessa temporada de 2013, com o apoio do Premio Myriam Muniz 2012. Ao chegar era ocasião de aniversário de 27 de anos do assentamento. De cara vimos a bandeira do MST - Movimento Sem Terra. Para alguns integrantes do grupo, que não conheciam o assentamento, foi curioso ver a bandeira, visto que outros assentamentos que o espetáculo já havia se apresentado não tinha relação direta com o movimento.

Algo que chamou atenção foi apropriação da juventude quanto sua participação na vida da comunidade assentada, sua condição de vida fora da capital, ou das cidades sedes ao redor de suas proximidades. A maneira como essa juventude tem reinventado a forma de vida em sua comunidade, isso nos fez perceber o quanto de autônomo os jovens assentados estão ficando. Também reafirma outra constatação em torno da situação das juventudes assentadas, que havíamos percebido desde o início da montagem do espetáculo SERTÃO.DOC, quando em uma comunidade no município de Independência, ao conversar com um jovem assentado, ele indagava que sua vida era ali, e que não tinha desejo de ir pra cidade, pois a vida do campo estava lhe dando condições de sobrevivência melhor do que se ele estivesse tentando a sorte em outra cidade. No início, essa constatação nos trazia uma inquietação, pois como gente de cidade grande que somos, não compreendíamos, ou pouco compreendíamos essa relação do jovem com a terra. Somente depois de outras vivencias em assentamentos, desde o período de montagem do espetáculo em 2010, e depois com a circulação por vários outros, dentro e fora do nosso estado é que as coisas foram criando sentido na nossa maneira de perceber essa juventude, seu potencial, sua importância para as comunidades e a importância da comunidade para eles. Essa juventude de Santana nos fez voltar à perceber essas questões e refletir isso em nossas vidas, nos lugares onde estamos na capital Fortaleza, na maneira de reinventar nossa existência, sobrevivência e à própria vida. Dessa maneira também foi possível identificar que tipo de contribuição estamos recebendo com esses “sujeito de saberes e fazeres”, e como eles influem e são importante no movimento da Rede de Teatro da Periferia e Campo, uma rede criada a partir das nossas vivencias e de outros grupos de fortaleza em assentamentos e do apoio do Projeto Arte Cultura na Reforma Agrária.

As crianças e adultos também não deixaram de ficar sem serem notados, pois suas insistências em permanecer no lugar onde iríamos apresentar o espetáculo, mesmo diante de todas as adversidades, os fizeram únicos.

Acontece que o terreiro onde escolhemos para montar nossas parafernalhas técnicas, aconteceu um fenômeno natural que era bom, já que estamos vindo dias de seca no nordeste brasileiro, porém, naquele momento, tudo o que não queríamos era chuva, visto que estávamos trabalhando com muito material sensível, como projetor, teclados, violão, mesa de som, guitarras, microfones e etc. De início, vimos um céu meio nublado, mas como estamos vivendo o fenômeno da seca no sertão, e consultando alguns moradores, certificamos que não correríamos risco. Durante a montagem do material iniciou-se uma ventania que começou arrastar tudo o que estava mais leve, como cadeiras, mesas, o nosso telão de uns 4m². Deu-se início algumas pingadas, e a ventania havia parado. Para as pessoas mais experientes, dizia que era sinal que ia cair chuva, mesmo assim persistíamos, porque a comunidade também persistia para ver o espetáculo e por isso insistíamos em apresentar e/ou encontrar um melhor lugar, porem as horas estavam estourando e não dava tempo desmontar tudo e remontar em outro lugar, assim decidimos fazer lá no local que escolhemos, ao ar livre. Depois de nos vestirmos, ao sair para fora da pequena cozinha que foi nos cedido, não tinha mais jeito: a chuva já começara, molhando alguns equipamentos eletrônicos do espetáculo. Por sorte contamos com a ajuda de “Seu Edi”, nosso motorista, e outras pessoas da comunidade. Com esse equipamento técnico molhado e o risco de chover mais, foi o jeito cancelar a apresentação. Dessa forma lamentamos muito não termos apresentado, e justamente por ser o aniversário do assentamento, prometemos voltar, junto ao projeto Arte Cultura na Reforma Agrária, pois percebemos que o espetáculo tem muito a ver com aquela comunidade que queria muito ver o espetáculo. Vários carros pau de arara haviam levado gente para assistir o espetáculo, que foi divulgado em escolas, e outros assentamentos, porém fomos vencidos por força maior, mas não lamentamos muito, porque chuva é o que estamos precisando no nordeste, então foi por uma boa causa.

Fortaleza, 27 de Maio de 2013

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