Por Kelly Enne Saldanha
O processo de
pesquisa de “Todo Camburão Tem Um Pouco De Navio Negreiro” tem trazido inúmeras
reflexões acerca da vida do negro dentro dessa nossa sociedade. É inevitável
que quando nós pensamos na vida deste negro, não possamos deixar de pensar na
nossa. Somos negros e negras. E por mais camuflados que sejam o preconceito e
discriminação, eles batem em nossa porta diariamente.
Encontramo-nos todos
os dias, pela manhã, e nesses encontros, a nossa pesquisa tem nos levado para
diversos rumos, mas nunca nenhum outro processo nos levou tanto para nós
mesmos. Estamos olhando para dentro. Enxergando nosso passado, nossas feridas. Lembrando
de situações que vivemos, que nos tocaram de alguma maneira, nem sempre
positiva. Estamos falando de negro e de como cada um sofre, de como cada um de
nós somos afetados. E cada dia que passa, os números vão mostrando aquilo que
discutimos de forma até cheia de subjetividade.
Ao ler uma matéria da
revista TPM- Menina Mulher da Pele Negra, fiquei impressionada como EU, MULHER,
NEGRA E POBRE, estou na ultima posição de uma lista social que trata a todos
como desiguais. Enquanto uma mulher branca recebe 67% do salário de um homem
branco, a mulher negra recebe, ocupando o mesmo cargo, 38% (dados do censo de
2010). Da mortalidade materna, a mulher negra morre 67% a mais que as brancas (conforme
pesquisa nacional de demografia e saúde). Esses dados acima revelam uma questão racial
e social. Todo Camburão Tem Um Pouco De
Navio Negreiro. Sendo mãe, morando na periferia e negra, eu poderia
facilmente estar inclusa nesses dados de mortalidade materna.
Tudo isso nos afeta
diretamente. Como não se preocupar, quando é nesse tipo de mundo que nossos
filhos vão nascer? Como não se apavorar ao ver que o respeito ao outro está
sendo cada vez mais esquecido? Como esquecer o preconceito e discriminação que
sofremos todos os dias?
Tudo isso faz parte
de nós. Não temos como fugir. Mas qual o resultado que teremos disso tudo? Não
sabemos. Somente em novembro que vamos saber.
Serviço
Todo Camburão tem Um Pouco de Navio Negreiro
Premio FUNARTE de Arte Negra
Durante os próximos quatro dias (18 a 21), a pesquisa continua no estado
do Maranhão, onde conheceremos a Comunidade Santo Antônio dos Pretos, no
município de Codó, retornaremos a Comunidade de Felipa, em Itapecuru Mirim, num
processo de imersão no Tambor de Crioula e visitaremos a experiência do
Quilombo Urbano, em São Luis.
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