Por Amanda Freire
Começamos o mês de setembro
“abastecidos” de energia e vontade de trabalhar. Tivemos apresentações fortes e
potentes, cada uma com sua singularidade que nos fizeram pensar e refletir
sobre o espetáculo, cada cena, como o espetáculo havia sido pensado e como
estava sendo executado. Conversamos sobre os signos, elementos e alegorias
cênicas. Os encontros de ensaios serviram para fazer desabrochar algumas
questões e debate-las com o grupo. Nesse momento estamos em circulação nas
periferias de Fortaleza através do apoio do Fundo Baobá.
No processo de reensaios, percebemos
algumas falhas técnicas e juntos desenvolvemos soluções. Nossa última
apresentação, porém, não acabou tão legal. Estou certa de que eu não fui a
única a pensar o resto da noite na morte daquele menino, mais um corpo que se
estendia no chão. Era cena final.
Natanael era julgado, quando mais um
dos seus perdia a vida na praça, no poste, na rua, ali...estatelado no chão
gelado. Em um lugar que tanta coisa acontecia ao mesmo tempo. Mais um na
multidão era mutilado. Meninos e meninas, adolescentes da nossa juventude, essa
esquecida e marginalizada. A polícia chegou, com toda sua arrogância e com todo
seu atraso. Dispersou geral. A carreira da negrada deu pra ver de dentro da
cena. Quando cheguei em casa, conversei com minha mãe, ela disse que o menino
que agora estava morto, era seu vizinho. Todos os dias pela tarde ele pedia
creme para cabelo e saía. Era sempre à tardinha. Ele era apelidado de
“colinha”. Ela disse: “já roubava até os conhecidos”. Dizia isso com seu olhar
abatido, olhava para o nada. Seu nome era Yago.
Quantos Natanaéis, Yagos, Rafaeis
precisarão morrer para que alguém olhe para a juventude da periferia? Todos os
instantes eles morrem, uma mãe fica órfã do filho. A cidade perde mais um
menino e sobe para os piores rankings do mundo. 30 de setembro era Yago quem
deixava sua vida inteira pela frente.
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