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NÓIS DE TEATRO NA COMUNIDADE DE CAETANOS DE CIMA - AMONTADA-CE

Posted by Nóis de Teatro On 09:48 No comments

Por Kelly Enne Saldanha



“Meu nome é José Barbosa Soares, tenho 50 anos e nasci em Caetanos de cima. Caetanos foi um homem que apareceu e habitou por um tempo nossas terras. Vinha pescar na praia e ficava ali onde hoje é casa do Victor. Depois foi embora e ninguém sabe pra onde foi, nem de onde veio.... As terras não eram divididas, os moradores moravam nas terras dos patrões, pagando um preço pelo o que plantavam e colhiam. Por isso a luta pela terra, pelo assentamento foi e é tão importante. Com o inicio da luta pela terra vamos conquistando algo a cada ano, a construção da escola, da igreja, do ponto de cultura...”

Movimento de Mulheres de Caetanos de Cima

“O Grupo de Mulheres de Caetanos de Cima surgiu no inicio da década de 70, com o surgimento das Comunidades Eclesiais de Base (CEB’S). Os primeiros encontros foram realizados no assentamento Maceió e, a principio, eram assessorados pela Comissão Pastoral da Terra – CPT –, através da presença das irmãs Maria Alice e Bete. A necessidade da organização das mulheres surgiu diante das dificuldades que estas enfrentavam nas comunidades, onde lhes eram negados até mesmo o direito de ir para as reuniões, alem de outros direitos, por conta do preconceito e do machismo. Assim, foi eleita uma coordenação e cada assentamento tinha sua representante. No assentamento Sabiaguaba, a primeira foi Maria Pinho e em seguida, em 1995, assumiu Valneide Sousa, de Caetanos de Cima. Em 1996, Valneide assume pela primeira vez a presidência da Associação de Moradores e reforça os direitos das mulheres dentro da organização comunitária, garantindo parte dos recursos do investimento para duas iniciativas, uma em Matilha e outra em Caetanos, denominada ‘Cercado de Mulheres’.

Em 1997, no dia 08 de março, as mulheres de Caetanos assumem a bandeira do enfrentamento à especulação imobiliária, construindo, em regime de mutirão, a barraca da praia denominada “Barraca das Mulheres”, que foi feita logo depois da ação comunitária que retirou a cerca colocada, na calada da noite, pelo Sr. Júlio Pirata.”

Esses trechos foram retirados do livro “Historiando Caetanos de cima” de Alexandre Oliveira Gomes e João Paulo Vieira Neto. Esse livro conta um pouco a história de Caetanos de Cima, comunidade do Assentamento Sabiaguaba - Amontada. Esses trechos nos ambientam nas lutas que a comunidade enfrenta e seu modo de agir perante as situações que a vida impõe.

Resistência e Luta na Região Praieira

A comunidade faz um trabalho de turismo comunitário, filiado a Rede Tucum, e além do turismo, a pesca ainda é meio de sustento para muitos. A região praieira de belezas naturais atrai o olhar de investidores e empresários e esse tem sido o principal problema vivido pela comunidade. Diferente das demais comunidades já visitadas pelo grupo, a comunidade de Caetanos de Cima enfrenta problemas de especulação imobiliária e grilagem.

Os assentados são nativos dessa terra, ou seja, sempre viveram ali, o dono foi indenizado e a terra enfim pôde ser distribuída. Mas daí o “pirata” chegou. Segundo o dicionário Michaelis pirata designa 1 Indivíduo que pratica a pirataria; ladrão do mar. 2 Dir Embarcação não submetida às leis do país nem às convenções internacionais, que no mar ou na costa acomete pessoas para se apoderar dos seus bens. 3 fig Aquele que enriquece à custa de outrem. 4 por ext Ladrão. 5 Indivíduo conquistador, sedutor. 6 Tratante, malandro, espertalhão.

Segundo Valneide, essa é uma luta nova e diferente das que eles estão acostumados a ter, não sabem as estratégias usadas pelos combatentes. Processos na justiça, liminares, grilagem, são formas que eles usam pra ocupar a terra dos assentados. Muitos quilômetros quadrados já foram perdidos, mas a comunidade não desiste, tendo que enfrentar inclusive a luta armada. O que mais preocupa a comunidade é como pessoas comuns estão sendo usadas como “laranja”. Não basta lutar contra empresários, lutar contra os semelhantes é algo preocupante. Um desses enfrentamentos é contado nas citações acima, onde as mulheres se unem para retirar as cercas colocadas pelo “pirata”.

Assim como as mulheres são organizadas, a cultura também é incentivada. Há pouco tempo formaram um grupo de teatro onde, através de um espetáculo, contam de maneira poética, a história da comunidade. Nessa peça podemos ver diversas gerações atuando para contar sua própria historia. Contam desde a ocupação ate a vinda do empresário, representada por um Leão com o olho vendado.



Além do teatro, a comunidade trabalha também com a dança de coco, muito típica onde os jovens e crianças mantêm essa tradição. Tradição, luta, enfrentamento e amor pela terra são passadas para as novas gerações: essa é a forma de manterem sua historia e sua terra.


Para saber mais sobre a Comunidade de Caetanos de Cima clique aqui

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