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TEMPORADA “SERTÃO.DOC” NO MARANHÃO Por Murillo Ramos

Posted by Nóis de Teatro On 07:54 4 comments




"A caravana “Sertão.doc” chega no maranhão na madrugada do dia 29 de agosto para duas apresentações: uma na praça ao lado do teatro João do vale e outra no assentamento Felipa que fica por volta de duas horas da ilha. Muita expectativa de todos. As apresentações iriam acontecer nos dia 30\08 e 01\09 onde teríamos o dia 31\08 para descansar, mas não contávamos que o MST, QUILOMBOLAS e COMUNIDADES INDIGENAS haviam ocupado o INCRA, e essa era uma oportunidade para mostrar o trabalho para quem está diretamente ligado as questões da terra, então o que era folga se transformou em mais um dia de trabalho, um dia de luta.

PRAÇA DO TEATRO JOÃO DO VALE
30 de agosto, terça-feira

Chegamos no local por volta das 15 horas, queríamos chegar cedo para conhecer espaço e ver o que tecnicamente ele nos oferecia. Contamos com o apoio do próprio teatro para base além de ponto de luz e energia elétrica para os nossos equipamentos de som. A praça culturalmente é ocupada por várias tribos que fizeram dali seu ponto de encontro para paqueras, vinhos... Um local para se expressarem da forma que encontrarem. Percebi que teríamos um público jovem mas também disperso e que iriam de alguma forma interferir de alguma forma no espetáculo.

A equipe do espetáculo já está bem coesa no discurso e forma do espetáculo o que já me dá uma certa tranqüilidade, o que realmente ainda me aflige é a forma que optei. Qual seria a saída se de repente um bêbado, um louco ou até mesmo um cachorro entrasse na roda? Penso que dentro do nosso processo chegou a hora de discutirmos as brechas que temos para esses casos, como lhe dar com as interferências que a rua nos dispõe? Alem disso não podemos fazer de qualquer jeito, é preciso ouvir melhor as interferências e aproveita-las a favor do nosso discurso, não somos só nós que temos algo a dizer mas também o público, e se este tem a vontade de lançar sua idéia, seu ponto de vista, ele tem que ser escutado.

O espetáculo correu bem tecnicamente (o que sempre é meu medo), mas o entorno era barulhento com muitos bares e som alto o que nos prejudicou, certa hora o som foi baixado e ficou tudo melhor, mas estamos na rua e isso faz com que tenhamos que ser diplomáticos com o entorno. Espectadores ligados, outros nem tanto, o “sertão .doc” tem um tom jovial o que nos dá garantia de aproximação com esse público. Não foi fácil, mas com seguimos com o trabalho um retorno favorável, aplausos calorosos e trocas com as pessoas sobre o tema, sobre a forma. Esperávamos mais pessoas, mas nos disseram que para uma terça-feira foi um público muito bom, se fosse um final de semana seria um estádio de futebol. Feliz com início de temporada.

INCRA-MA
31 de agosto, quarta-feira

Estava acontecendo uma ocupação no INCRA, os ânimos tensos, estávamos no meio da real luta pela reforma agrária. O que nós debatemos durante meses estava acontecendo ali: assassinatos das lideranças, crimes ambientais, atrasos nos processos, politicagem, tudo sendo discutido dentro do manifesto, e nós com sede de apresentar um trabalho que fala sobre todas essas questões.

O espetáculo, posso dizer que foi um dos mais emocionantes da minha vida,  me deu a certeza de que as escolhas que fizemos foram felizes, aquele público respondia a tudo e sabia de tudo o que estávamos falando, a resposta ao nosso jogo de opressor-oprimido através das canas do capitão, o ato de ver-se, notar-se através do espetáculo, penso que deu a eles um sentimento de que não estavam sós, mas que existiam pessoas que mesmo aparentemente de fora da luta azeitava o discurso, dava coro ao manifesto. Os atores, totalmente à vontade, parecia que estávamos apresentando para amigos, o riso no tempo certo, respostas dadas diante da opressão, tudo de maneira espontânea, de maneira digna. O trabalho está ganhando a utilidade que queríamos, e estamos cada vez mais engrandecidos com o nosso oficio. Um teatro digno.

A euforia culminou numa grande festa, era a festa da cidadania, a festa do dever sendo cumprido, éramos também trabalhadores lutando por melhores condições, trabalhadores da arte lutando por melhorias meio a quilombolas, indígenas, trabalhadores rurais... Naquele instante, como nunca na minha vida, me senti brasileiro, nos sentimos... e somos.



COMUNIDADE FELIPA – ITAPECURU MIRIM
01 de setembro, quinta-feira

Já era 14hs quando chegamos em Felipa, um assentamento quilombola a mais ou menos duas horas de São Luís, e a acolhida foi a base de cânticos de boas vindas juntamente com o tradicional tambor de crioula. Uma parada para o almoço, um breve descanso para conversar com as pessoas do assentamento e desembarcamos o caminhão com o nosso material.

Embora cansados, a apresentação correu bem. O que de algum modo me incomodou foi a falta de ritmo de algumas cenas, principalmente as mais vibrantes, que mereciam maior energia do elenco, mas devido ao cansaço físico elas ficaram lentas, a música de alguma forma também me pareceu sem efeito, mas o contato com o público foi no tempo e hora certa.Percebi que o olhar do público de Felipa foi o do entretenimento, isso não quer dizer que tenham se atinado para o contexto político do espetáculo, mas aconteceu o que a grande maioria pensa, por motivos culturais, o teatro como modo de entretenimento,  mas também houve pessoas que notaram nosso propósito, ouviram, viram e sentiram o que estávamos fazendo ali. Aplausos bastante calorosos, olhares carinhosos, rostos felizes com nossa vinda. Muito o que fazer. Muito o que trabalhar. À partir daqui sinto que temos que abranger outras questões, muitas questões. Será que é isso mesmo?

A temporada no maranhão foi rica e diversa, fizemos amigos, construímos afetos e garantimos abertura para um possível retorno. Retornaremos, tenho certeza disso, de algum modo ficou para o público algo que está na própria forma do espetáculo, o inacabado, as questões que ainda estão abertas sobre a reforma agrária, deixamos tudo isso no ar."







ALGUNS PONTOS A SEREM CONSIDERADOS

A nossa ida para São Luis contou com o apoio primordial do Projeto Arte e Cultura na Reforma Agrária, iniciativa do INCRA-CE que tem mobilizado o GT Nacional de Arte e Cultura na Reforma Agrária. A partir da ótica do projeto pudemos fortalecer as articulações em torno da discussão da arte e da cultura no processo de reforma agrária nacional. A presença da gestora cultural Silma Magalhães foi de extrema importância para a mobilização das ações, bem como pela sua sensibilidade de perceber o momento certo de fazer cada ação. A parceria com a vice-governadoria do Maranhão também foi primordial nessa ação, pois a mesma pôde colaborar com a produção local do espetáculo. Parabéns ao Banco do Nordeste e ao BNDES pela iniciativa de patrocínio a iniciativas como essas.



Fotos de Duda Lemos.


Para conhecer mais sobre o Projeto Arte e Cultura na Reforma Agrária clique aqui

Para saber mais clique aqui

4 comentários:

Camaradas,
Ficamos todos encantados porque transportados para dentro do espetáculo, na apresentação que fizeram na sede do INCRA MA, durante o Acampamento dos Povos e Comunidades Tradicionais. Inicialmente tive receios de que o cansaço acumulado de 10 dias de ocupação pudesse prejudicar a participação. Mas aquela não era uma apresentação que falava do espaço sideral era a nossa luta de cada dia contada-cantada em versos, musicas, corpos em movimentos.
Obrigado!!!
Parabéns!!!
Inaldo Serejo
CPT-MA

Valeu Iraldo!... É emocionante ver depoimentos como os seus... e a luta continua... agora seguimos para a Bahia, vamos apresentar no Assentamento Eldorado, em Santo Amaro. abraços...

Valeu pelo novo nome. O antigo-original: Inaldo.
Abraços e Fé na Vida...

INALDO

ohh Inaldo... perdão!... hehehe... sou meio assim, despercebido! que gafie... odeio quando erram meu nome também... abraços! Altemar di Monteiro

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