Dando continuidade às pesquisas estéticas empreendidas pelo Nóis de Teatro, o Projeto Periféricos – Nóis Ocupa o Bom Jardim – está a todo vapor, trazendo para o grupo perspectivas de cena, possibilidades artísticas, criações experimentais, além de discutir o desarmamento no nosso bairro.
Os encontros estão rolando diariamente e mais recentemente, o elenco está aprofundando as suas reflexões acerca da performance/ intervenção no espaço aberto. Os trabalhos atuais têm seguidos o estudo acerca da possibilidade de trabalhar a intimidade com o publico no espaço aberto. Partimos da seguinte pergunta: É possível fazer um espetáculo para apenas três ou quatro pessoas?
Na rua o publico é volante. Passa por todos os lados, em todas as direções. Às vezes o espetáculo faz com que esse público pare e observe o acontecimento estético no espaço urbano. Outras vezes ele não se interessa e segue seu caminho. Mas, se em vez de intervir somente no espaço, intervirmos no espaço e nos caminhos traçados pelos sujeitos?
Recentemente temos discutido sobre o trabalho de repentistas, vendedores de balas e outros ambulantes que passam de canto em canto, fazendo o seu trabalho (a sua cena) para poucos, e pela repetição alcançam a muitos. Em um só dia, um vendedor de balas dentro de um ônibus deve falar para cerca de, no mínimo, 500 pessoas. Isso é um grande público, conquistado com o ardor do exercício da repetição, e a repetição para poucos. Partindo dessa idéia, estamos concebendo a ocupação de um espaço (preferencialmente uma praça) onde as pessoas estejam em seu cotidiano, seja nos bares, restaurantes, bancos de praça, etc, e o ator (ele é o espetáculo) chega onde esse publico está para fazer a sua encenação (curta a principio)... A idéia é, na construção de um espaço de intimidade com duas ou três pessoas que estejam numa micro-roda, podermos estabelecer uma relação estética com a mesma, através do ato teatral. A mesma cena segue por toda a praça, passando de grupo em grupo, revelando o contexto da encenação em que estamos inseridos.
É necessário, no contexto de nossa proposta, muita intimidade com a rua, com o que ela propõe, com o que ela espera e deseja, para daí estabelecermos um elo de intimismo com o publico que na praça está. Queremos trabalhar com textos e questões densas, personagens tipicamente complexos em suas questões. Queremos experimentar o personagem na sua relação com o publico no espaço aberto, criando um envolvimento nas pessoas que vivenciam um contato com o mesmo. Muitas têm sido as questões levantadas nesse processo de investigação, mas as respostas só vêm no fazer, no ocupar, no estar presente. No contato olho a olho com um publico pequeno, pretendemos, inspirado no trabalho de ambulantes, ou mesmo dos “pedágios” feitos por estudantes na Avenida da Universidade, estabelecer uma forma diferenciada de pensar o trabalho de ator no espaço aberto.
Na próxima semana, nos dias 27 e 28 de outubro, estaremos ocupando as feiras livres dos bairros da Granja Portugal e do Bom Jardim. O ator Henrique Gonzaga, junto com as atrizes Iane Lima e Kelly Enne Saldanha, orientados por Altemar di Monteiro, estarão nesses espaços investigando essas possibilidades. Quem quiser aparecer por lá, será bem vindo.
As reflexões vão sendo construídas. As possibilidades vão sendo nos dada. A nossa pesquisa continua... Nas praças das periferias tem sido construído um grande referencial estético e poético. E viva a arte que dá vida!
Altemar di Monteiro
Direção Projeto Periféricos
2 comentários:
as possibilidades que a rua nos dá são infinitas. trabalhar no espaço aberto trás um Q de desafio pois estamos o tempo todo trabalhando com o incontrolável. exige tecnica, habilidade, conhecimento e principalmente experiencia.
temos que pensar o Trabalho, como trabalho...evidenciar aqueles que estão a sombra, mostrar a cara que a sociedade esconde. vamos experimentar...
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