O vídeo nos permite participar, enquanto telespectadores, do itinerário da vida de uma mulher (pertencente a uma classe social economicamente vulnerável) a transitar num dia ensolarado por alguns espaços do Centro da cidade, mesclando sua busca por materiais recicláveis nos recipientes de lixo, com seu interesse pelos produtos postos nas vitrines e nos estandes de venda. Num primeiro momento, parece estranho o fato daquela senhora estar portando um saco de lixo como recipiente no qual pretende possivelmente levar suas compras. Daí percebemos que ela, na verdade, esconde sua condição social enquanto demonstra estar tranquilamente interessada em se produzir com o que está disposto nas lojas. Pelo que se nota, a mulher fica somente na vontade (sob a máscara da aparência), como também nenhuma das pessoas passantes manifesta curiosidade ou ter sido provocada por aquela contradição sabida apenas por nós telespectadores. Penso que ao contrário do flâneur nº 1, este de nº 2 se mostrou um mergulho mais subjetivo no contexto experienciado pela persona ou personagem e menosprezou a relação desta com as demais pessoas passantes, bem como das reações que estas últimas manifestam nesse contato. Em algum nível, o uso da peruca protege a intérprete ou atuante de não transparecer aos outros e outras que aquela vivência ou laboratório pelo qual pessoalmente está passando, demonstre ser realmente a sua condição real. Fico imaginando como essa mulher seria recebida e tratada nos mesmos lugares pelos quais ela passou, caso iniciasse seu trajeto já travestida tal como ela ficou ao final da gravação. A sentença “a rua é agasalhadora da miséria” talvez ganhasse outros contornos e um entendimento mais profundo. Seria talvez como dizer: o “olho da rua” é o único berço que não exclui esse ser humano, que o acolhe ainda que de maneira ácida e as vezes cruel? Contudo, parabenizo a vocês pelo trabalho. Eu não estava presente, mas é “Nóis”!
2 comentários:
O vídeo nos permite participar, enquanto telespectadores, do itinerário da vida de uma mulher (pertencente a uma classe social economicamente vulnerável) a transitar num dia ensolarado por alguns espaços do Centro da cidade, mesclando sua busca por materiais recicláveis nos recipientes de lixo, com seu interesse pelos produtos postos nas vitrines e nos estandes de venda.
Num primeiro momento, parece estranho o fato daquela senhora estar portando um saco de lixo como recipiente no qual pretende possivelmente levar suas compras. Daí percebemos que ela, na verdade, esconde sua condição social enquanto demonstra estar tranquilamente interessada em se produzir com o que está disposto nas lojas. Pelo que se nota, a mulher fica somente na vontade (sob a máscara da aparência), como também nenhuma das pessoas passantes manifesta curiosidade ou ter sido provocada por aquela contradição sabida apenas por nós telespectadores.
Penso que ao contrário do flâneur nº 1, este de nº 2 se mostrou um mergulho mais subjetivo no contexto experienciado pela persona ou personagem e menosprezou a relação desta com as demais pessoas passantes, bem como das reações que estas últimas manifestam nesse contato. Em algum nível, o uso da peruca protege a intérprete ou atuante de não transparecer aos outros e outras que aquela vivência ou laboratório pelo qual pessoalmente está passando, demonstre ser realmente a sua condição real.
Fico imaginando como essa mulher seria recebida e tratada nos mesmos lugares pelos quais ela passou, caso iniciasse seu trajeto já travestida tal como ela ficou ao final da gravação. A sentença “a rua é agasalhadora da miséria” talvez ganhasse outros contornos e um entendimento mais profundo. Seria talvez como dizer: o “olho da rua” é o único berço que não exclui esse ser humano, que o acolhe ainda que de maneira ácida e as vezes cruel?
Contudo, parabenizo a vocês pelo trabalho. Eu não estava presente, mas é “Nóis”!
Massa Gilvan! É sempre muito bom ler suas palavras!...
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