Por Kelly Enne Saldanha
A
caravana Nóis de Teatro vem para concluir nossas comemorações de 10 anos de
atividades. Depois do lançamento do Livro “A Arte que vem das margens- 10 anos
de Nóis de Teatro” e o documentário “Um Pouco Sobre Nóis”, a caravana vem para
abrilhantar nossos festejos. Nossos
planos são de percorrer a periferia, o campo e o nordeste levando nosso fazer
teatral, o nosso olhar sobre a vida, o cotidiano e tudo mais que abordamos em
nossos espetáculos.
Dia 12
de abril de 2013, começou a Caravana Nóis de Teatro 10 anos. Nossa rota começou
pelo município de Fortim, a 135 km de Fortaleza. Saímos numa sexta, à tarde e
fomos logo para o Assentamento Coqueirinho.
Recepcionados pelo Grupo Loucomotivas de Teatro, iniciamos logo nossos
preparativos para apresentar nossa encenação.
Já
levamos “sertão.doc” para vários locais do país e para diversos tipos de
pessoas. Dezenas de apresentações já foram feitas e centenas de pessoas já
assistiram. Isso significa que a apresentação foi a mesma coisa? Não. São pessoas diferentes, assentamentos
diferentes, realidades diferentes. A reação de cada pessoa diante do
espetáculo, diante dos desmandos do capitão, diante dos amigos que já tombaram
na luta pela terra, cada reação difere dos que já viram Sertão.doc. Além de ser
um dia especial por ser inicio da caravana, foi também por outros dois motivos.
Primeiro era a estreia de nosso mais novo integrante do Sertão.doc, Dario
Oliveira, e por ser também seu aniversário.
O
Assentamento Coqueirinho, em Fortim, é um exemplo de organização e proatividade
da juventude. Coqueirinho completou 17 anos e desde 2002 vem fazendo atividades
teatrais. As famílias vivem essencialmente da agricultura e até não sofrem
tanto com a ida de pessoas do assentamento para outras capitais. Uma realidade
muitas vezes enfrentada em outros assentamentos. Alessandro Nascimento foi um
dos pioneiros do fazer teatral, como ele mesmo diz: “faço parte da primeira geração”. Hoje já podemos ver que o Grupo
Loucomotivas de Teatro está chegando a sua quinta geração. A garra e desempenho
desses jovens da comunidade de Coqueirinho foi e é tão marcante, que o nome do
grupo tem relação com isso. Motivantes e loucos. Loucomotivas! E não é que esse
negócio pegou. E assim, vem transportando sua luta ambiental através da arte e
da cultura. Composta essencialmente de jovens, passa pelas mesmas dificuldades
que todo grupo de teatro, apesar de a comunidade ver no grupo uma possibilidade
de manter o jovem no assentamento, longe das possibilidades incertas que a
capital traz.
Como
fortalecer o fazer teatral desse grupo, tão longe fisicamente e tão perto
também? Temos agora a Rede de Teatro da Periferia e do Campo para ajudar nesse
processo. E quantas possibilidades
podemos ter... Uma delas, Alessandro mesmo falou: levar o Encontro da Periferia
e do Campo para Fortim. Isso poderia criar ou mesmo fortalecer o apoio das
secretarias de cultura dos municípios. Esse olhar do poder publico para as
atividades culturais feitas pelos assentamentos poderia trazer benefícios tanto
para o grupo como para o assentamento e também para o município. Esse tipo de
município geralmente não enxerga as produções feitas no seu entorno. Pensa-se
que cultura se define com bandas de forró vindas de fora, que levam milhares de
reais para seus bolsos, enquanto, a arte e a cultura local ficam às migalhas. Potencializar
as produções locais, passar por processos formativos, ver e fazer teatro são
exemplos do que a Rede pode fazer.
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