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Nóis nas ruas de Morada Nova – Do Camarim na funerária aos aplausos na Rua

Posted by Nóis de Teatro On 16:45 No comments



Por Bruno Sodré


 

Morada Nova fica a 170 km de Fortaleza, porém a metade do elenco já estava por lá. Estávamos vindo de Fortim-CE onde na noite anterior apresentamos Sertão.doc no assentamento Coqueirinho com um belo intercâmbio com o grupo Loucomotiva de teatro. Chegando na praça já fomos bem recebido por integrantes do grupo de teatro Duas caras em caras novas, grupo esse que movimenta o assentamento Terra Nova e a região com apresentações e articulações culturais e a presença da secretária de cultura de Morada Nova. Após a pausa para o almoço fomos descarregar o cenário já com todos os integrantes. Como estávamos no centro comercial de Morada Nova os lojistas já começaram ficar curiosos com a nossa movimentação, em plena tarde com um “sol nordestino” de 14h, digo Nordestino pelo fato de que o sol parece mais quente pro lado de cá, por isso decidimos ficar protegido em baixo de um alpendre no meio da praça.

Com o horário da apresentação se aproximando fomos levados para nossos camarins e para a surpresa de todos uma funerária seria nosso local de concentração.  Em meio às imagens de flores e uma atmosfera, digamos que, diferente do que costumamos ficar, demonstrando assim uma nostalgia ou ate mesmo a magia que o teatro de rua pode proporcionar como os teatros mambembes de tempos atrás, que tornavam ao seu redor um lugar especial para que essa magia transformasse a rua inteira em um mundo diferente. Esse momento não foi diferente: o nosso colorido transformou o local.  Já maquiados e aquecidos fomos colorir a praça ao som de Asa Branca, um lamento que na atualidade da seca volta como um retrato que vez por outra insiste em nos castigar e como o espetáculofala de uma ocupação e mostra o misto de ocupação campesina dos retirantes e a formação de uma nova periferia, é como se esse ciclo de seca e retirada que castiga o Nordeste há tempos atualizasse toda a dramaturgia do espetáculo. Ao invés de pesquisar todas as historias de seca no tempo passado é como se o próprio tempo atual se tornasse fonte de pesquisa pra nós atores, tendo em vista a grave situação de açudes que podemos verificar ao passar pelas estradas entre uma apresentação e outra, pelo aumento de preço em determinados alimento que são básicos para a vida no campo e até mesmo na cidade. Diferente das secas descritas pelos nossos avós onde os moradores do campo viam a cidade como fonte de saída/salvação, hoje já não existe essa opção por isso o espetáculo se tornou tão atual, tão vivo que chega até o público não como uma história e sim como uma situação vivida por cada um.

Embora o espetáculo aborde uma ocupação passada de uma periferia onde crescemos, na vida real “A Granja” se tornou tão mais atual que os outros espetáculos montados depois dela pelo grupo.

Por todos esses questionamentos que o espetáculo aborda fica claro que o público se identifica e infelizmente ao final de cada cena vêem no espetáculo a realidade de sua cidade comparando o Zé da Granja (personagem corrupto e donos de terras) com algum político de sua região, uma prova de que políticos e política na maioria das vezes agem do mesmo jeito. Em Morada Nova não foi diferente, o público ao final do espetáculo aplaudiu e se identificou, com nosso objetivo alcançado fomos para o assentamento Terra Nova onde apresentamos o espetáculo Sertão.Doc. Durante toda viagem, já que apresentamos Três espetáculos seguidos percebemos o quanto seria cansativo a nossa tão sonhada “Caravana Nóis de Teatro” que circulará por varias cidades do Brasil no mês de Julho. Contudo, no fim de cada espetáculo, ser aplaudido de pé (já que na rua não utilizamos cadeira o que ajuda, diferente do palco que as pessoas aplaudem de pé não porque ovacionaram seu espetáculo,mas porque estão de pé pra sair do espaço, senão sentariam novamente) e a cada grupo que conhecemos e vamos conhecer. Certamente isso nos motiva a querer sempre mais essa magia da rua.



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