Por Bruno Sodré
Morada Nova fica a 170
km de Fortaleza, porém a metade do elenco já estava por lá. Estávamos vindo de
Fortim-CE onde na noite anterior apresentamos Sertão.doc no assentamento
Coqueirinho com um belo intercâmbio com o grupo Loucomotiva de teatro. Chegando
na praça já fomos bem recebido por integrantes do grupo de teatro Duas caras em
caras novas, grupo esse que movimenta o assentamento Terra Nova e a região com
apresentações e articulações culturais e a presença da secretária de cultura de
Morada Nova. Após a pausa para o almoço fomos descarregar o cenário já com
todos os integrantes. Como estávamos no centro comercial de Morada Nova os
lojistas já começaram ficar curiosos com a nossa movimentação, em plena tarde
com um “sol nordestino” de 14h, digo Nordestino pelo fato de que o sol parece
mais quente pro lado de cá, por isso decidimos ficar protegido em baixo de um
alpendre no meio da praça.
Com o horário da
apresentação se aproximando fomos levados para nossos camarins e para a
surpresa de todos uma funerária seria nosso local de concentração. Em meio às imagens de flores e uma atmosfera,
digamos que, diferente do que costumamos ficar, demonstrando assim uma
nostalgia ou ate mesmo a magia que o teatro de rua pode proporcionar como os
teatros mambembes de tempos atrás, que tornavam ao seu redor um lugar especial
para que essa magia transformasse a rua inteira em um mundo diferente. Esse
momento não foi diferente: o nosso colorido transformou o local. Já maquiados e aquecidos fomos colorir a praça
ao som de Asa Branca, um lamento que na atualidade da seca volta como um
retrato que vez por outra insiste em nos castigar e como o espetáculofala de
uma ocupação e mostra o misto de ocupação campesina dos retirantes e a formação
de uma nova periferia, é como se esse ciclo de seca e retirada que castiga o Nordeste
há tempos atualizasse toda a dramaturgia do espetáculo. Ao invés de pesquisar
todas as historias de seca no tempo passado é como se o próprio tempo atual se
tornasse fonte de pesquisa pra nós atores, tendo em vista a grave situação de
açudes que podemos verificar ao passar pelas estradas entre uma apresentação e
outra, pelo aumento de preço em determinados alimento que são básicos para a
vida no campo e até mesmo na cidade. Diferente das secas descritas pelos nossos
avós onde os moradores do campo viam a cidade como fonte de saída/salvação,
hoje já não existe essa opção por isso o espetáculo se tornou tão atual, tão
vivo que chega até o público não como uma história e sim como uma situação
vivida por cada um.
Embora o espetáculo
aborde uma ocupação passada de uma periferia onde crescemos, na vida real “A
Granja” se tornou tão mais atual que os outros espetáculos montados depois dela
pelo grupo.
Por todos esses
questionamentos que o espetáculo aborda fica claro que o público se identifica
e infelizmente ao final de cada cena vêem no espetáculo a realidade de sua cidade
comparando o Zé da Granja (personagem corrupto e donos de terras) com algum
político de sua região, uma prova de que políticos e política na maioria das
vezes agem do mesmo jeito. Em Morada Nova não foi diferente, o público ao final
do espetáculo aplaudiu e se identificou, com nosso objetivo alcançado fomos
para o assentamento Terra Nova onde apresentamos o espetáculo Sertão.Doc. Durante
toda viagem, já que apresentamos Três espetáculos seguidos percebemos o quanto
seria cansativo a nossa tão sonhada “Caravana Nóis de Teatro” que circulará por
varias cidades do Brasil no mês de Julho. Contudo, no fim de cada espetáculo,
ser aplaudido de pé (já que na rua não utilizamos cadeira o que ajuda,
diferente do palco que as pessoas aplaudem de pé não porque ovacionaram seu
espetáculo,mas porque estão de pé pra sair do espaço, senão sentariam
novamente) e a cada grupo que conhecemos e vamos conhecer. Certamente isso nos
motiva a querer sempre mais essa magia da rua.
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