Por Edna Freire
Começamos o processo em abril com aulas exploradora
sobre o teatro do oprimido. As oficinas eram abertas a toda comunidade de 10 a
100 anos, mas acabou ficando somente com crianças de 8, 9, 10, 12, 18. O que
não foi ruim, pelo interesse em que elas tinham em saber mais sobre o teatro do
"comprimido" assim achavam eles que se chamava assim.
Percebi
que eles tinham muito a oferecer com a questão de participação, no começo todos
bem envergonhados, mal falavam. Tínhamos que ficar puxando o assunto sobre o
que eles achavam sobre o teatro do oprimido, até que saia algumas coisas, ainda
era pouco. Mas quando fazíamos os jogos, era participação 100%, ai era boca pra
que te quero, pernas e tudo mais um pouco.
Bem,
ficamos nesse processo por uns dois meses. Começamos o que seria feito pra
concluir as oficinas, sim! Esquete. Mais o que fazer com essas crianças de 8,
9, 10, 12 e 18 anos? Teatro do oprimido é pra atores e não atores, e em uma das
conversas finais antes da montagem da esquete foi lembrando por Erico Dant, um
dos integrantes das oficinas. Começamos a pensar juntos com eles, escutando o
que eles queriam fazer. Turbilhão de idéias - uma família que não aceitava a
menina namorar com um malandro ou mãe que brigava com a menina ou então as
pessoas que riam das pessoas gordas. E assim vai.
Daí
pensei em todas as atividades que a gente tinha passado. Com trabalhos do tipo
de pegar uma revista e procurar na mesma recorte que remeta a opressão.
Buscando sempre nas imagens quem era o opressor e o oprimido, através de
desenhos também. Foi pedido como tarefa de casa pra eles desenhares situações
de opressões que acontecem no dia a dia deles, uns com desenhos coloridos
mostrando uma família infeliz, ou que a vizinha maltrata a sua própria mãe.
Natália Sousa me pergunta "tia como pode uma filha maltratar sua própria
mãe?" Dei uma resposta qualquer, mas na verdade fiquei sem resposta pro
que não tinha resposta, até tem várias, mas qual cabível pra uma criança que
ainda tem muito pra ver?
Daí
me veio na mente montar sobre um pouco da história dos pais deles, como há
milhares por aí, o êxodo rural. Com idéias colocadas por eles fui criando algo,
rascunhos, usar teatro imagem, teatro fórum foram eles que deram a idéia,
coisas do tipo "tia a gente pode falar com o pessoal" ou "tia a
gente pode ficar parados nessa hora assim" e sempre demonstrando. Fui
percebendo que eles estavam empolgados com a esquete, se interessaram ao ponto
de decorarem o texto rapidinho em dois, três dias no máximo. A empolgação era
tão grande que eles mal podiam contar a euforia, a gente tentava controlar, mas
tinha horas que tínhamos que ser bem chatas até, para que eles se acalmassem, e
ao mesmo tempo aquilo também era empolgante pra gente, acho que posso falar por
Amanda também, já que nossa preocupação era se eles iam assumir isso com a
gente, sendo que eles ainda não se apropriam do significado de compromisso com
alguém ou com algo.
Na
esquete são quatro personagens principais, foram escolhidos pelo nível de interesse
e por disponibilidade. Os outros 3 entraram como ajudantes de cena, motivos
como não queriam atuar ou porque não
sabe ler ainda. Com sete não atores, estamos indo muito bem, concluímos as
cenas, os meninos fixaram bem o texto. E agora estamos trabalhando as cenas, o
que está bom, o que precisa mudar, coisas assim.
Os
nossos ensaios estão acontecendo de segunda a sexta das 18:30h as 20:30h,
nossos figurinos estão quase prontos, estamos terminando de ver só alguns
detalhes, cenário está encaminhado, ou seja, estamos nos conformes. O texto não
tem muita coisa, é simples, acho que bem direto, estamos trabalhando muito na
montagem de esquete.
A
empolgação deles nos empolga, ver que eles saíram do teatro do "comprimido"
e entraram totalmente no teatro do "oprimido", entendendo que
opressão não é a mãe mandado ele ir estudar ou ajudar nas tarefas de casa na
hora do seu desenho favorito. E sim, um mendigo na calçada, o sertão na seca,
ou todas essas manifestações acontecendo no Brasil e eles agora afirmam, isso
sim é opressão.
A apresentação dos resultados das oficinas de Teatro do Oprimido ministradas pelas atrizes do Nóis de Teatro, vai acontecer no dia 07 de julho, domingo, no Centro Cultural do Bom Jardim e na Sede do Nóis de Teatro.
O projeto " Teatro do Oprimido na periferia de Fortaleza" é realizado com recursos do Prêmio Agente Jovem e Ações Interculturais, da Secretária de Cidadania e da Diversidade Cultural, do Ministério da Cultura (MinC)
O projeto " Teatro do Oprimido na periferia de Fortaleza" é realizado com recursos do Prêmio Agente Jovem e Ações Interculturais, da Secretária de Cidadania e da Diversidade Cultural, do Ministério da Cultura (MinC)
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