Por Amanda Freires
E o processo de montagem de “Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro” vai se finalizando. Sabemos que o
processo nunca será concluído, mas precisamos e vamos estrear no dia da
consciência negra. Arrepio-me só de pensar na data e que apresentaremos pra
pessoas importantes nessa data tão linda. Quando alguém me pergunta por que
estou nesse processo, questionando minha cor, penso na seguinte resposta: não
sou negra, mas sou feita dessa cor, pais e irmãs, sobrinhos, tios, primos, avós
negros. Nasci e me criei ouvindo meu pai dizer o quanto e pelo quê minha irmã
passaria, e seria excluída, muitas vezes humilhada, cresci ouvindo o quanto
teria VANTAGEM sobre ela, e eu não entendia o motivo. Nunca imaginaria que meu
pai estivesse certo, por causa de COR, eu seria perante aos outros, SUPERIOR,
superior à minha irmã, que tinha o mesmo sangue, mesmo suor, mesmo pai, mesma
mãe, avós, coração, dores, amores, não impedia que eu continuasse vendo o que
meu pai dizia era verdade, lendo tanta atrocidade em publicações em rede
social, digo: REDE SOCIAL. As pessoas não se envergonham em cuspir com os
dedos, frases e textos de ódio ao negro.
Eu nunca posso dizer: sinto na PELE
essas dores, essas chicotadas, essa bala, mas eu sinto de perto, de pertinho,
não posso dizer que em mim dói o quanto dói neles, mas dói muito, o muito que
nem chega perto do que é essa dor para minha irmã. E eu preciso fazer parte
disso, eu preciso DIZER algo para esses “branquizadores”, dizer o quanto me
orgulho de ter nascido dessa e com essa negrada. Dizer o quanto me orgulho de
ter esse cabelo, esse nariz, suor, bunda, sexo e alma bem pretinhos. Quero
muito dizer para esse preconceito que posso ser o carvão depois de pegar fogo,
posso ser a cinza, que suja e mancha, deixar essa mancha em quem ousar cuspir
ódio ao negro, EU ESTOU AQUI!
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