Por:
Henrique Gonzaga
O processo de montagem de Todo Camburão Tem Um Pouco De Navio Negreiro está chegando ao fim, se é que posso
dizer que esse espetáculo um dia vai estar concluído, mas estamos nos
aproximando da estreia: 20 de novembro no Centro Cultural Banco do Nordeste. Todas as pessoas que trabalham com arte sabem da correria
e do estresse que é estrear um espetáculo, os prazos se encurtam, as coisas
nunca ficam prontas no dia, os problemas se potencializam, tudo que pode dar
errado vai dar errado e por aí vai. Já passei por isso várias vezes, mas nunca
tinha estado em um processo tão desgastante, físico e emocionalmente como esse.
Parece que cada vez mais coisas são sugadas de você e junto com essas coisas se
vão a sua razão, a sua paciência, a sua “simpatia”, a sua energia, entre
outras...
E o pior é que realmente estou
ficando vazio, mas a sensação do vazio não me deixa perturbado, pois se me
sinto vazio é por que entreguei tudo que tinha pra entregar, deixei tudo que
tinha naquela sala de ensaio, os meus sentimentos mais secretos, as minhas
lembranças mais escondidas, as minhas feridas mais profundas, a minha razão, a
minha alegria, o meu humor, a minha voz. Sinceramente hoje não tenho mais nada,
a não ser o essencial para levantar da cama e seguir em frente.
Mas o processo não para e nem é
afetado por isso, pelo contrário, agora que já entregamos tudo, temos que
reunir e mediar as nossas entregas, e como a arte não é nada simplória temos
que mostrar a nossa entrega de uma maneira bela, alegre, farsesca, tudo que uma
obra de arte tem direito. Vamos correr, vamos brigar, vamos chorar, vamos
curtir o nosso esvaziamento, é tão raro isso!
Caminhemos, produzamos,
façamos, por que ninguém vai fazer pra gente, inclusive não queremos que
ninguém faça por nós. Esse espetáculo é nosso, ele tem cor: É PRETO! Tem
cheiro: É DE SUOR! Tem vida: A NOSSA!
Vamos?!
Vamos!
Então vamos juntar essa
corrente que continua amarrada na nossa perna e dançar, cantar e balançar muito
ela, mas muito, por que a música que sai de uma corrente balançando traz no som
o pesar da luta e a luta nunca acaba.
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