Por
Jefferson Saldanha
Outro
dia fui fazer uma entrega num bairro nobre daqui de Fortaleza, na Aldeota. Estávamos
de moto, eu e meu amigo. Somos negros, algo definidor de muitas coisas. Ao
parar em um sinal de trânsito, o carro que parou ao lado tinha uma senhora
branca e, com certeza, cheia de posses financeiras, mas sem sequer o mínimo de
consciência diante dessas diferenças.
Quando
paramos no sinal, meu colega que estava na garupa ouviu essa senhora dizer:
“Olha, já estão querendo roubar alguém...” e assim fechou seu vidro do carro importado.
Ao ficar sabendo do que aconteceu, fiquei extremamente triste e preocupado. Perguntei-me:
Se aquela senhora saísse do carro e gritasse que eu estava assaltando, quem
iria parar para perguntar? Diante desse medo coletivo que tomou conta das pessoas,
atrocidades vão sendo feitas em nome de uma justiça que nunca se chega.
Como
não ser afetado por isso? Pensei em meu filho de quatro anos e na minha esposa.
Eu poderia não ter voltado pra casa pelo julgamento de uma senhora. Fui julgado
como ladrão e assim seria por todo os passantes ao redor, pois sou negro, isso
já explica tudo. Por um momento minha vida esteve na mão daquela senhora que
não me conhecia, mas já me definia.
Esse
júri coletivo, esse juiz social está cada dias mais cruel e pronto para
realizar atrocidades. Ficamos com medo, pois a qualquer momento podemos não
voltar pra casa por que alguém disse que somos ladrões. Como fica minha
família? Como eu fico diante de tudo isso?
Passar
por essas situações nos faz refletir ainda mais sobre as questões estruturais
na qual estamos inseridos. Esse tipo de questão tratamos no nosso “camburão”,
fatos que invadem ainda mais nossos noticiários de TV e cotidiano.
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