Por Altemar Di Monteiro
São incrivelmente gratificantes os
retornos e resultados que temos acompanhado em relação à produção e distribuição
do Jornal “A Merdra”. Na sua décima terceira edição, mais de 13.000 exemplares
já circularam pelas periferias desta cidade, alcançando também alguns espaços
em outros estados, contribuindo – de forma mesmo informal, e isso é uma escolha
– com a produção do pensamento e do conhecimento de populações historicamente
marginalizadas no processo de construção da “História” cultural oficial.
Intercalando textos sobre as experiências do Nóis de Teatro com artigos e
matérias sobre outros atores da cultura cearense, o jornal segue em busca pela
contribuição na descentralização e democratização do acesso a bens de ordem
imaterial e subjetiva nas comunidades por onde temos passado. A nossa rede de
parcerias se fortalece em intercâmbios, multiplicando-se numa múltipla “Paideia”
de conhecimento comunitário, popular, dialogando com uma necessidade quase
militante de transformação do mundo que nos cerca.
A terceira edição se enche de
singularidade para os editores do Jornal por ter no seu escopo editorial, mais
uma vez, experimentos sensíveis de produção de subjetividade sobre a causa
negra nas periferias. Com o apoio da PETROBRAS e do CADON, através do 3º Premio
Nacional de Expressões Culturais Afro-Brasileiras, estaremos realizando no mês
de maio o terceiro ato da nossa intervenção urbana “O Jardim das Flores de
Plástico”. Foram quatro meses de processo com nove artistas negros das
periferias de Fortaleza com o intuito de realizar um ato cênico nos espaços
públicos das nossas comunidades, em especial o Bom Jardim, Pirambu e o Planalto
Pici. Durante esse processo muita coisa foi produzida pelos “teatreiros”
participantes, com objetivo de avançar nas discussões e produções práticas de
uma poética de matriz negra, nascida da pulsão inventiva da juventude negra das
periferias. Neste jornal reunimos poemas criados pelos artistas participantes,
além de outros textos, artigos, entrevistas e desabafos sobre o que é ser negro
num estado que ainda teima em não reconhecer a produção cultural que vem do
celeiro da inventividade ativa do que se é (sobre)viver.
Avançando na produção estética das
nossas experiências pessoais e na performatividade de um olhar inserido no contexto
suburbano, trazemos também outros textos poéticos (além de uma dica de filme) sobre
a singularidade de uma noção poética – que se afirma criticamente – sobre as
geografias e arquiteturas do território onde estamos inseridos. Poesia e
crítica social se fundem num constante debate sobre periferia, cidade, cultura
e as populações que habitam esses territórios, em sua maioria negra, vítima do
absurdo descaso das políticas públicas brasileiras.
Confira o jornal:
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