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OBSERVEMOS AS RUAS DE NOSSA PERIFERIA...

Posted by Nóis de Teatro On 19:51 No comments

POR KELLY ENNE SALDANHA



Observemos as ruas de nossa periferia. Todas são iguais! Certamente essa afirmativa não está de todo errada. Mas, se buscarmos ver com um pouco mais de cuidado, poderemos ver diferenças e semelhanças. Em termos estruturais podemos aí ver a maioria de suas semelhanças(ou não). Ás vezes asfaltada, outras não. Quando muito com saneamento básico, poucas podemos encontrar assim. Compridas, curtas, cortadas por rios transformadas em canais de esgoto. Lama, muita lama, ás vezes nem tanto. Não existem um conjunto de regras bem definidas que demarquem como devem ser as periferias. Mas basta chegar em uma que qualquer pessoa saberá que ali é.
Mas as diferenças e semelhanças em sua topografia, ou mesmo arquitetura não demonstram a grandiosidade de suas particularidades. Toda rua tem a Dona Socorro, ou Dona Iraci, quem sabe a Dona Francisca, donas da rua. Popularmente chamadas de fofoqueiras, não tem quem não identifique uma delas na rua em que mora. Respeitosamente chamadas de "Dona", sempre acessadas em caso de curiosidade, mas as primeiras a sofrerem com críticas caso um mal falar seja circulado. Sentadas na calçadas, o tempo parece que não as afeta. Nunca há o que se fazer, a não ser ficar pela calçada. O que seríamos de nós sem esses aborrecimentos?
E a  cada época, uma brincadeira ressurge anualmente. Se não são jogos de bila, são de pião, raia, futebol etc. Sempre uma delas faz crianças e adultos aderirem nesse mergulho quase viciante. Dia e noite estão lá, se dedicando. Outro vez o tempo não parece afetá-los, sempre estão lá, quer seja com chuva ou sol.
As ruas das periferias tem lógicas não comuns a outras ruas da cidade. Como por exemplo o asfalto, não está  ali para os carros. Aqui, os moradores tomam as ruas sem medo, uma liberdade pouco afetada pelas buzinas de carro ou moto. Sem mencionar as musicas ouvidas coletivamente por decisão apenas de um único vizinho. A sonora da periferia é uma mescla de atitude, empoderamento e vibração. O melhor dela você vê ao final da tarde.
E é nessas ruas, cheias de invenção humana, de vocabulário particular, de um modo de se vestir, andar e viver diferentes de vários outros bairros da cidade, onde vamos atuar com o jardim das flores de plástico- ato 3. Dentro dessa periferia viva, vamos Nó(i)s, intervir e performar numa realidade já tão pulsante e forte. Esse é o nosso principal desafio.
Como de alguma maneira ter ao menos a mínima atenção destes moradores já tão mergulhados nessa desordem ordenada? Os meus anos de experiência em teatro me responderá? O fato de ser um ator completo resolverá a questão? A superioridade do meu ser teatral de nada servirá nestas ruas. Em outras, quem sabe, mas aqui? Duvido muito.

Humildade para aprender, se deixar afetar para quem sabe, afetar alguém. Quem sabe assim poderemos ter um mínimo de atenção. 

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