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NÓIS DE TEATRO E GRUPO GRITA- UM INTERCÂMBIO INESQUECÍVEL

Posted by Nóis de Teatro On 19:13 No comments

Por Edna Freire




GRITA – grupo independente de teatro amador, assim é o nome do grupo de teatro que fica na comunidade Anjo da guarda uma periferia de São Luís que antes era conhecida como Itapicuraiba. O grupo, pelo que conhecemos não tem nada de amador. Trabalham na comunidade 41 anos, sendo que o bairro Anjo da Guarda tem 47 anos. Muita luta e muita história pra contar em parceria. Histórias entre tragédias com superação e movimento político pra que o bairro crescesse e atendesse as demandas das várias famílias que ali faziam suas histórias.

Nóis de Teatro ao chegar ao bairro e ao teatro onde o grupo GRITA resida, fomos bem recebidos. Uma moça muito sorridente se apresenta como Taís, professora de dança. Tal apresentação era feita com bastante orgulho, mas, com mais orgulho ainda Taís apresentou sobre a Via Sacra. Você já ouviu falar da nossa via sacra?” E dispara, “é a segunda maior do Brasil, só perdemos pra Pernambuco, mas, aqui consideramos o primeiro lugar, porque juntamos o maior número de pessoas seguindo a via por todo bairro. Lá em Pernambuco tem que pagar, e aqui não, a via sacra é pra quem chegar, é pro povo mesmo”. Ficamos maravilhados com a forma que ela explicava tudo.

O grupo Grita apresenta a via sacra há 35 anos, e a polícia do local estima umas 200 mil pessoas que acompanha a via. Isso nos fez ficar bastante curiosos sobre os recursos que o grita usa, como conseguem atingir toda aquela multidão. Através de uma oficina ministrada por Altemar Di Monteiro no teatro Itapicuraíba deu pra conhecermos um pouco da redondeza do teatro, um bairro precário, ou seja, mais uma periferia esquecida nesse Brasil. O grupo durante a oficina deixou bem claro seu papel ali naquele bairro. O Grita não está alheio a situação do bairro, a luta é grande, o grupo busca através de seus trabalhos com teatro diariamente a visibilidade pelos governantes para o bairro. Não é muito diferente do que o grupo Nóis faz em Fortaleza no bairro Bom Jardim, uma periferia conhecida pelo governo cearense como Território de Paz.

Fomos conhecendo um pouco da história do grupo Grita durante as oficinas, através de integrantes e ex-integrantes contando essa linda história. Ouvimos falas maravilhosas de ex-integrantes de o quanto cresceram junto com o grupo Grita, mas, que foi preciso fazer um próprio caminho. A história é longa, afinal, são 41 anos de vida bem vividos, segundo alguns integrantes do grupo.

A oficina aconteceu no sábado pela manhã e no domingo à tarde. A atividade tratava sobre olhares periféricos, com exercícios sobre como lançar um olhar, quantas possibilidades de olhares, para onde e de onde olhar. E assim fomos criando uma relação forte entre os grupos, porque estávamos lançando olhares um pro outro. Havia sempre trocas, e acabava que não havia só troca de olhares, mas, também havia trocas de gestos, de toques, de histórias, de bons afetos de uma maneira tranquila e natural.

A possibilidade de sair do espaço fechado para as ruas do bairro Anjo da guarda tinha tudo pra nos deixar dispersos, afinal ali era a “rua”, mas não, entre brincadeiras e conversas, olhares sob e sobre o está fora se tornou muito interessante, trouxe discussões maravilhosas. Conhecemos um pouco da história de alguns lugares como os espaços que foram construídos para realização das paradas da via sacra. Chegamos também na feira do bairro para discutir o que tinha de bonito nessa feira ou de feio. Poderíamos achar o belo naquela bagunça que sempre existe em uma feira, entre outros locais, que sempre nos faziam parar e olhar de outras formas. Acredito que depois dessa troca de grupos mudamos muito a forma de olhar para o meio.

O Nóis de Teatro apresentou no sábado e no domingo o espetáculo Quase Nada, e claro, convidamos não só o grupo Grita, mas, também toda a comunidade pra ir nos ver no teatro Itapicuraíba de graça. Ao final, como toda apresentação da temporada de São Luís, no final puxávamos uma roda de conversa. O espetáculo foi muito bem recebido e bem criticado pelos nossos colegas do Grita e da comunidade.

O grupo Grita tem no nome “amador”, e eu não vimos o trabalho que o grupo faz na comunidade como amador.  Amadores pelo que fazem foi o que vimos. Saímos de lá pensando que esse nome Grita é algo que não cala que grita pra chamar atenção mesmo. Porque existem várias bocas ali gritando chamando atenção para os governantes, que ali naquela periferia pulsa arte e arte de qualidade, e que é um grupo de periferia organizado. Um grito de vida longa para o Grupo Grita e seus trabalhos!


Serviço: O intercâmbio Nóis de Teatro e Grupo Grita foi patrocinado pela Petrobras Distribuidora de Cultura via Ministério da Cultura – Lei Rouanet.

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