Por Edna Freire
GRITA – grupo
independente de teatro amador, assim é o nome do grupo de teatro que fica na
comunidade Anjo da guarda uma periferia de São Luís que antes era conhecida
como Itapicuraiba. O grupo, pelo que conhecemos não tem nada de amador. Trabalham na comunidade há 41 anos,
sendo que o bairro Anjo da Guarda tem
47 anos. Muita luta e muita história pra contar em parceria. Histórias
entre tragédias com superação e movimento político pra que o bairro crescesse e
atendesse as demandas das várias famílias que ali faziam suas histórias.
Nóis de Teatro ao
chegar ao bairro e ao teatro onde o grupo GRITA resida,
fomos bem recebidos. Uma moça muito sorridente se apresenta como Taís, professora de dança. Tal apresentação
era feita com bastante orgulho, mas, com mais orgulho ainda Taís
apresentou
sobre a Via Sacra. “Você já ouviu falar da nossa via sacra?” E dispara, “é a
segunda maior do Brasil, só perdemos pra Pernambuco, mas, aqui consideramos o
primeiro lugar, porque juntamos o maior número de
pessoas seguindo a via por todo bairro. Lá em
Pernambuco tem que pagar, e aqui não, a via sacra é pra quem chegar, é pro povo
mesmo”. Ficamos maravilhados com a
forma que ela explicava tudo.
O grupo Grita apresenta a via sacra há 35
anos, e a
polícia do local estima umas 200 mil pessoas que acompanha a
via. Isso nos fez ficar bastante curiosos sobre os
recursos
que o grita usa, como conseguem atingir
toda aquela multidão. Através de uma oficina ministrada por Altemar Di Monteiro
no teatro
Itapicuraíba deu pra conhecermos um pouco da redondeza do teatro, um bairro precário, ou
seja, mais uma periferia
esquecida nesse Brasil. O grupo durante a oficina deixou bem
claro seu papel ali naquele bairro. O Grita
não está alheio a situação do bairro, a luta é grande, o grupo busca através de
seus trabalhos com teatro diariamente a visibilidade pelos governantes para o
bairro. Não é muito diferente do que o grupo Nóis faz em Fortaleza no
bairro Bom Jardim, uma periferia conhecida pelo governo cearense como Território de Paz.
Fomos conhecendo um pouco da história
do grupo Grita durante as oficinas, através de integrantes e ex-integrantes
contando essa linda história. Ouvimos falas maravilhosas de
ex-integrantes de o quanto cresceram junto com o grupo Grita, mas, que foi
preciso fazer um próprio caminho. A história é longa, afinal, são 41 anos de vida bem vividos, segundo alguns integrantes do
grupo.
A oficina aconteceu no sábado pela manhã e no domingo
à tarde. A atividade tratava sobre olhares
periféricos, com exercícios sobre como lançar um olhar, quantas possibilidades
de olhares, para onde e de onde olhar. E assim fomos criando uma relação forte
entre os grupos, porque estávamos lançando olhares um pro outro. Havia sempre trocas, e acabava que não havia só troca de
olhares, mas, também havia trocas de gestos, de
toques, de histórias, de bons afetos de uma maneira tranquila e natural.
A possibilidade de sair do espaço
fechado para as ruas do bairro Anjo da guarda tinha tudo pra nos deixar
dispersos, afinal ali era a “rua”, mas não, entre brincadeiras e conversas,
olhares sob e sobre o está fora se tornou muito interessante, trouxe discussões
maravilhosas. Conhecemos um pouco da história de alguns lugares como os espaços
que foram construídos para realização das paradas da via sacra. Chegamos também na feira do
bairro para discutir o que tinha de bonito nessa feira ou
de feio. Poderíamos achar o belo naquela bagunça que sempre existe em
uma feira, entre outros locais, que sempre nos faziam parar e olhar de outras
formas. Acredito que depois dessa troca de grupos mudamos muito a forma de
olhar para o meio.
O
Nóis de Teatro apresentou no sábado e no domingo o
espetáculo Quase Nada, e claro, convidamos não só o grupo Grita, mas, também toda a comunidade pra ir nos ver no teatro
Itapicuraíba de graça.
Ao final, como toda apresentação da temporada de
São Luís, no final puxávamos uma roda de conversa. O
espetáculo foi muito bem recebido e bem criticado pelos nossos colegas do Grita e
da comunidade.
O grupo Grita tem no nome “amador”, e
eu não vimos o trabalho que o grupo faz na comunidade como amador. Amadores pelo que fazem foi o que vimos. Saímos de lá pensando que esse nome Grita é algo que não cala que grita pra
chamar atenção mesmo.
Porque existem várias bocas ali gritando chamando atenção
para os governantes, que ali naquela periferia pulsa arte e arte de qualidade, e
que é um grupo de periferia organizado. Um grito de vida longa para o Grupo
Grita e seus trabalhos!
Serviço: O intercâmbio Nóis de Teatro e Grupo Grita foi
patrocinado pela Petrobras Distribuidora de Cultura via Ministério da Cultura –
Lei Rouanet.
0 comentários:
Postar um comentário