Por
Kelly Enne Saldanha
Mês de setembro chegou e tão logo chegou, passou. Acabou. Mais que
qualquer coisa, foi um mês de reflexão. Depois de tanto tempo nos apresentando,
pudemos enfim resguardar um tempo fixo na semana pra poder conversar e refletir
sobre o espetáculo, além de ensaiar e produzir uma circulação mensal por
Fortaleza que segue até o início do ano que vem. Nesse momento, estamos circulando o espetáculo "Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro" pelas periferias de Fortaleza com o apoio do Fundo Baobá.
Desde quando montamos o espetáculo até os dias de hoje, muito coisa
mudou. Mas o que não muda é a morte frequente entre os jovens da periferia. A
ultima apresentação realizada em setembro, no Pólo de lazer do Conjunto Ceará
foi bem marcante. A primeira frase ouvida ao fim do espetáculo foi: "A
arte imita a vida?" Nunca essa frase fez tanto sentido.
O Pólo de lazer do Conjunto Ceará é um espaço amplo que recebe vários
tipos de jovens, composto por bares, quadras de skate, esportes, brinquedos
para crianças e quiosques de lanche. No último dia 30, do Maculêlê, pudemos ver
vários tipos de reuniões da juventude. Ali, bem do nosso lado, tínhamos o
encontro de pichadores. Logo mais ao longe, do outro lado da praça, tínhamos o
rolezinho, encontro de adolescentes em praça pública. Entre esses dois extremos
tínhamos também as famílias curtindo o fim de semana, levando seus filhos para
brincar e comer batata frita.
Esses encontros são frequentes na praça. Estão ali toda semana. Nóis que
não. Outra situação frequente é a repressão aos adolescentes que se encontram
no rolezinho. Sempre às 21:30 ela chega de forma truculenta dispersando a
multidão. Nesta mesma hora, ainda estávamos Nóis apresentando. De repente,
ouve-se vários tiros. Do outro lado da praça pudemos ver a correria. Logo
pensamos, é a polícia, já está na hora. Mas logo após os tiros, a multidão
retorna. Pudemos entender de cara o que havia acontecido. Com três tiros na
cabeça morre mais um jovem em nossa periferia.
Por mais que fujamos dessa notícia, sim ela é comum no nosso dia a dia.
Jovens matando jovens, policia matando jovens, jovens matando polícia. Quando
poderemos não ter mais medo? Quando poderemos não morrer mais? Nesses tempos de
propaganda política, muitos candidatos apresentam grande atenção concentrada ao
setor da segurança, prometendo aumentar os efetivos municipais de segurança e
os armar. Como se resolve o problema da violência tendo a violência como arma
de combate? Como poderemos pensar em um futuro sem medo, onde poderemos ocupar
os espaços públicos, onde poderemos enfim acreditar que vale a pena lutar por
uma segurança sem violência? Quando vamos ter políticos que pensem em revolver
os problemas sociais na sua base e não com paliativos?
Enquanto isso, vamos caminhando. Mesmo com medo, as vezes sem esperança,
continuamos.
0 comentários:
Postar um comentário