Por Kelly Enne Saldanha
A circulação do espetáculo Quase Nada por Aracaju e São Luis
nos oportunizou trabalhar a acessibilidade de uma outra maneira. Ter a presença
dos tradutores de surdos dentro da sala de espetáculo nos mostrou uma outra
visão do nosso próprio trabalho. Especialmente em Aracaju pudemos perceber as
particularidades regional que a linguagem dos sinais apresentam, que varia de
região pra região.
Quando pensamos em um espetáculo que circule em espaços
fechados, não necessariamente para teatro, estamos pensando em acessibilidade.
O Quase Nada pode ser apresentado em qualquer sala que apresente as condições
mínimas. Essa possibilidade de se “encaixar” em outros espaços alternativos
como sede de grupos de teatro que, em sua grande maioria, não apresenta palcos,
oportuniza a possibilidade de circular por mais lugares. Outro exemplo de como trabalhamos
a inclusão é a gratuidade de grande parte das sessões que apresentamos este
espetáculo. Com a circulação do Quase Nada com o apoio da Petrobras e Ministério
da Cultura pudemos incluir aqui também a comunidade surda.
Quando os tradutores de surdos chegam para compor o
espetáculo, outras visões sobre o espetáculo vão sendo mostradas para Nó(i)s.
Durante o processo de montagem tivemos a escolha de incluir algumas rubricas do
autor durante a cena. Essa escolha se deu pela necessidade de reforçar sentidos
e acontecimentos de cena. Com a chegada dos intérpretes de libras, esse recurso
cênico é interpretado, por muitos, como áudio descrição.
Assim como em São Luis, em Aracaju tivemos que ver qual
seria o melhor posicionamento da plateia surda. A localização durante a cena
foi repetida do Maranhão, já que tínhamos essa experiência positiva da circulação
anterior. Mas em relação aos profissionais contratados pudemos ver uma
diferença muito grande com o trato com o trabalho. Existe um conjunto de regras
e comportamentos que os profissionais da área de intérprete de libras precisam
seguir. Em São Luis isso também existe, porém, se adequando a essa outra
linguagem que é o teatro, lá eles tiveram modificações na forma de executar o
trabalho. Eram atores interpretando libras e não somente os tradutores. Essa
diferença foi percebida porque em São Luis tínhamos duas pessoas atuando
juntas, onde havia o toque, a relação, assim como os atores. Já em Aracaju, as
regras da profissão prevaleceram. Sendo assim, o intérprete fica sozinho em
cena e haviam trocas entre os dois profissionais que nos acompanhavam.
Essas diferenças foram importantes para nós percebermos a
regionalização das libras, tanto em relação ao trato profissional, quanto na
execução do sinal para traduzirem a mesma situação.
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