Por
Henrique Gonzaga
O
processo de pesquisa do novo espetáculo do Nóis, que tem o título provisório de
Ama, tem nos colocado em uma profunda
reflexão sobre os nossos corpos e como eles se relacionam com a sociedade. É
importante ressaltar que, em período de pandemia, os nossos corpos enfrentam
mais uma possibilidade de morte, fora todas as outras que uma sociedade
racista, homofóbica e machista nos oferece. Dentro dessa reflexão, estamos
discutindo sobre as experiências que os nossos corpos dissidentes tiveram e
ainda tem nas construções das relações com essa sociedade.
Em
um momento específico do processo, fomos provacades a pensar em histórias que
se passaram com a gente e contá-las utilizando um espaço da sede do Nóis, essa
proposta veio para estreitar os laços entre as participantes do processo.
No
exercício houve uma grande coincidência, as três artistas contaram as suas
histórias utilizando o mesmo espaço, o banheiro. Essa coincidência nos chamou
atenção para o fato de as histórias terem um teor de confessionalidade e aquele
espaço, tido como um dos mais íntimos de uma casa, era o local perfeito para se
contar uma história íntima.
Foram
contadas três histórias completamente diferentes e o que juntava elas era
energia de intimidade compartilhada naquele exercício, assim como, o espaço do
banheiro construindo o cenário perfeito para cada uma.
Após
a apresentação das propostas, começamos a discutir sobre o tom confessional que
as apresentações tinham, pela história, pelo banheiro, pelo tom que era usado e
como tudo aquilo se tornava potente dentro de uma produção fílmica.
Mesmo
com as propostas sendo executadas de uma maneira muito interessante,
colocamo-nos a pensar como aquelas histórias poderiam sair do tom confessional para um tom ficcional.
Como fazer de uma história real, uma grande ficção? O que é ficcional? O que é
o real?
Essa
perguntas permearam um debate muito interessante sobre as apresentações que
foram feitas, mas também, sobre os modos que podemos utilizar das nossas
vivências e criar algo que deixa de ser uma experiência individual e passa a
ser uma vivência coletiva.
Essa
discussão entre o real e ficcional tem trazido muitos desdobramentos para o
processo de pesquisa, tem nos feito pensar que lugares do real do nosso corpo
queremos tocar e como fazer desses lugares uma ficção que gere o engajamento de
outras pessoas, que elas possam embarcar no que estamos propondo.
O
processo ainda está caminhando, sem uma direção exata de onde vai chegar, mas
estamos nos permitindo primeiro nos conhecer, adentrar as nossas realidades
para começar a construir as nossas ficções.
“Este
projeto é apoiado pela Secretaria Estadual da Cultura, através do Fundo
Estadual da Cultura, com recursos provenientes da Lei Federal nº 14.017, de 29
de junho de 2020”
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