Por Kelly Enne Saldanha
Apresentar “Sertão.doc” em Brasília nos trazia grandes expectativas.
Afinal de contas, criticamos posturas comuns a políticos e grandes empresários.
E ali é onde encontramos grande concentração destes tais. A visibilidade também
era algo muito esperado. Tínhamos representantes de movimentos sem terra,
indígenas, quilombolas, sociedade civil e tantos outros interessados e
envolvidos com as questões da terra, de todas as partes do país. Tínhamos
conterrâneos, nortistas, sulistas, tantos lugares como a pluralidade que nosso
país comporta. Tivemos a possibilidade de nos apresentar para o país
inteiro, em um lugar apenas.
Além da diversidade de brasileiros que vimos, conhecemos e partilhamos
nesses dois dias, tínhamos também duas vertentes dentre os presentes, os que
apoiavam o governo e os que não. O que mais foi percebido foi a
preocupação com os processos de reforma agrária e questões da terra. Será nosso
papel tomar um posicionamento a respeito? Ou estamos aqui só para mostrar? Será
que mostrar já não é um posicionamento?
Independente de opiniões, fatos são fatos. Mostramos isso. A luta do
homem do campo de ontem e de hoje. A escolha pela terra não é fácil. É uma
luta! E os meios de comunicação vem mostrando que esses movimentos sociais vem
perdendo força na luta, principalmente devido a dificuldade na obtenção de
resultados. A resistência vem perdendo força. De fato a mudança de governo trás
ainda mais instabilidade e desafios. Esse tipo de preocupação foi percebido na
1º Conferência Nacional de ATER onde tivemos a oportunidade de apresentar nosso
espetáculo.
Aparentemente nosso espetáculo sofre certo preconceito antes mesmo de
começar. Somos figuras urbanas, representantes de tribos marginalizadas e isso
já traz, a priori, um olhar diferenciado. De inicio ninguém consegue fazer
relação do sertão com aquelas pessoas vestidas de preto, com distorções de
guitarra e um som percussivo forte. Mas depois logo percebem que é um olhar
estrangeiro de causas rurais, tribos urbanas falando das causas da terra. Mas
o tônus, o vigor, a energia são semelhantes aos que lutam, que buscam por
melhorias e condições de viver na e da terra.
Fazer homens de paletó e gravata e mulheres com saltos número 15
correrem pelo roll de entrada, fazer o publico reagir aos desmandos do capitão
e rir aos anúncios da grande empresa de agronegócio foram alguns exemplos do
que conseguimos provocar em nossa platéia. Vimos nos olhos marejados que a luta
não acabou, que o espetáculo foi um fôlego pra continuar. O publico
chorou ao lembrar dos que já morreram, chorou ao sentir o peso das batalhas,
chorou pelo cansaço, mas chorou também por ter naquele momento um novo vigor,
um momento de ver um horizonte menos ruim ou quem sabe com mais esperança.
Fomos aplaudidos de pé, abraçados, ovacionados. Agradeceram, agradeceram
e agradeceram muito. Nóis agradecemos muito mais. Foi um momento impar em
nossas vidas. A luta não acabou!!
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