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DAS MÃOS DO HOMEM SAI A DOR DO HOMEM

Posted by Nóis de Teatro On 08:47 No comments



Por Henrique Gonzaga



Muito tenho refletido sobre a colocação a cima, não tem como deixar de sentir a dor, a dor física, a dor psicologia, a dor da falta de esperança.  Fortaleza passou por esses dias por um turbilhão de revolta, um trabalhador foi assassinado e outro foi ferido gravemente enquanto trabalhavam. A comoção foi geral, não que esse caso seja diferente dos vários que acontecem diariamente, mas essa dor foi sentida por um estado todo.
Tudo isso trouxe para o nosso processo debates, discussões e reflexões que tentavam analisar a violências, suas causas e consequências. Por isso venho por no papel, minhas inquietações. Talvez esteja fugindo do papel central desse relatório ou não, é justamente isso que tem que ser feito.
Creio que cabe uma reflexão mais profunda sobre a dor. Essa que incomoda, lateja, que não consegue ser esquecida. Essa que corrói por dentro fazendo com que a única coisa que importe é ela. A dor da faca que entra, a dor da mãe que chora, a dor da criança que enfia a faca, a dor da insegurança, a dor da segurança. Quantas dores compõem uma sociedade?
Se falando em periferia, as dores se multiplicam e se espalham, sendo partilhadas e carregadas por muitos, muitos que nem sabem a causa da sua dor, que se acostumaram a dor, que acham que a dor é necessária. A dor é algo que me prende, que me deixa sem ação, que não me deixa pensar em mais nada, a não ser aproveitar cada segundo da sua insuportável existência. Talvez por isso pouco seja feito, poucas sejam as saídas, por que a dor não deixa.
Tenho sentido muitas dores, elas se manifestam em todas as partes do meu corpo, me deixando acuado, sem perspectiva, sem acreditar e tudo isso se desencadeia numa enorme falta de esperança. Desculpem a falta de trato, mas eles me faltam.
Mesmo com tudo isso, a dor me traz uma sensação de luta, uma sensação de “cura”, onde só aqueles que querem deixar a dor podem conseguir. Um dia vi um verso de Carlos Drummond de Andrade que dizia:

Definitivo, como tudo o que é simples. 
Nossa dor não advém das coisas vividas, 
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. 

Esses sonhos devem ser cumpridos, o sonho de uma sociedade melhor, o sonho do amor ser o protagonista da história, o sonho do viver. Acredito em sonhos e talvez por isso ainda estou aqui. Talvez por isso sinta dor, talvez por isso me preocupe, se um dia eu deixar de sonhar não sei o que as minhas mãos vão carregar.



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