Por Henrique Gonzaga
Muito tenho refletido sobre a colocação a cima, não tem como deixar de
sentir a dor, a dor física, a dor psicologia, a dor da falta de esperança. Fortaleza passou por esses dias por um
turbilhão de revolta, um trabalhador foi assassinado e outro foi ferido
gravemente enquanto trabalhavam. A comoção foi geral, não que esse caso seja
diferente dos vários que acontecem diariamente, mas essa dor foi sentida por um
estado todo.
Tudo isso trouxe para o nosso processo debates, discussões e reflexões
que tentavam analisar a violências, suas causas e consequências. Por isso venho
por no papel, minhas inquietações. Talvez esteja fugindo do papel central desse
relatório ou não, é justamente isso que tem que ser feito.
Creio que cabe uma reflexão mais profunda sobre a dor. Essa que
incomoda, lateja, que não consegue ser esquecida. Essa que corrói por dentro
fazendo com que a única coisa que importe é ela. A dor da faca que entra, a dor
da mãe que chora, a dor da criança que enfia a faca, a dor da insegurança, a
dor da segurança. Quantas dores compõem uma sociedade?
Se falando em periferia, as dores se multiplicam e se espalham, sendo
partilhadas e carregadas por muitos, muitos que nem sabem a causa da sua dor,
que se acostumaram a dor, que acham que a dor é necessária. A dor é algo que me
prende, que me deixa sem ação, que não me deixa pensar em mais nada, a não ser aproveitar
cada segundo da sua insuportável existência. Talvez por isso pouco seja feito,
poucas sejam as saídas, por que a dor não deixa.
Tenho sentido muitas dores, elas se manifestam em todas as partes do meu
corpo, me deixando acuado, sem perspectiva, sem acreditar e tudo isso se
desencadeia numa enorme falta de esperança. Desculpem a falta de trato, mas
eles me faltam.
Mesmo com tudo isso, a dor me traz uma sensação de luta, uma sensação de
“cura”, onde só aqueles que querem deixar a dor podem conseguir. Um dia vi um
verso de Carlos Drummond de Andrade que dizia:
Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Esses sonhos devem ser cumpridos, o sonho de uma
sociedade melhor, o sonho do amor ser o protagonista da história, o sonho do
viver. Acredito em sonhos e talvez por isso ainda estou aqui. Talvez por isso
sinta dor, talvez por isso me preocupe, se um dia eu deixar de sonhar não sei o
que as minhas mãos vão carregar.
"O projeto Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro é vencedor do Prêmio
Funarte de Arte Negra"
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