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FÉ E INTOLERÂNCIA

Posted by Nóis de Teatro On 08:44 1 comment



Por Kelly Enne Saldanha



Era uma vez um país agrícola, onde o cultivo da terra era a maior fonte de renda para umas poucas famílias brancas ali estabelecidas. Era um lugar de muitas terras e inúmeros escravos.

Os escravos eram, como de costume, negros. Eram tratados, como de costume, com extrema violência. E a quantidade dos negros era tanta que em determinado período chegou à proporção de quatro escravos para cada homem branco. A grande violência com que eram tratados e a superioridade numérica foram determinantes para o processo de libertação desse país. Foi o primeiro país a ter os negros como protagonistas nesse processo.

Assim como em qualquer país, o reconhecimento de independência custa muito caro, principalmente se esse país foi liberto por negros. A dívida externa que esse país precisou pagar foi o suficiente para deixa-lo na miséria. Era muito importante que esse país não tivesse uma prosperidade econômica para não servir de exemplo para tantos outros que se encontravam na mesma situação.

A miséria na qual ele mergulhou foi diagnosticada por muitos como fruto das religiões de matriz africana dos negros. Esse é o Haiti e sua história de independência é pouco divulgada, ao contrário da situação econômica da qual vive o país, principalmente depois das catástrofes da natureza que passou a pouco tempo. Essa história aqui contada é para relatar mais um exemplo de como as religiões de matriz africana sofrem preconceitos e discriminação.

Historicamente a fé é justificativa para inúmeras formas de violência. Foram cruzadas, guerras santas que aconteceram justificadas numa fé que oprime, segrega e destrói. É difícil de entender que uma fé religiosa é capaz de tudo isso, entendendo que o Deus ou Deuses das quais essas pessoas acreditam, geralmente, não buscam a maldade, nem a violência, tampouco a opressão e a discriminação.

Por tudo isso pensamos que é muito importante falarmos sobre o Candomblé, a Umbanda e outras religiões de matriz africana com o intuito de fortalecer o reconhecimento e o respeito. Nem sempre trataremos de forma direta, mas invariavelmente iremos tocar nesse assunto.

Em nossas pesquisas, percebemos como a Umbanda e Candomblé sofrem discriminação até por quem participa delas. Em alguns lugares visitados por nós, foi perguntado sobre a religião que seguem. Muitos disseram ser católicos, apesar de frequentar os terreiros, mas foi com muita veemência que se disseram católicos.
No Grande Bom Jardim há uma grande quantidade de terreiros, muitas vezes escondidos. Escondidos da sociedade, das autoridades, da discriminação. Nossa busca é por respeito. Contra intolerância e toda forma de discriminação. Contra o preconceito do interior, em favor do exterior. A favor da vida, e vida em abundância.

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