Por Kelly Enne Saldanha
Era uma vez um país agrícola, onde o cultivo da
terra era a maior fonte de renda para umas poucas famílias brancas ali
estabelecidas. Era um lugar de muitas terras e inúmeros escravos.
Os escravos eram, como de costume, negros. Eram tratados,
como de costume, com extrema violência. E a quantidade dos negros era tanta que
em determinado período chegou à proporção de quatro escravos para cada homem
branco. A grande violência com que eram tratados e a superioridade numérica
foram determinantes para o processo de libertação desse país. Foi o primeiro
país a ter os negros como protagonistas nesse processo.
Assim como em qualquer país, o reconhecimento de
independência custa muito caro, principalmente se esse país foi liberto por
negros. A dívida externa que esse país precisou pagar foi o suficiente para
deixa-lo na miséria. Era muito importante que esse país não tivesse uma
prosperidade econômica para não servir de exemplo para tantos outros que se
encontravam na mesma situação.
A miséria na qual ele mergulhou foi diagnosticada
por muitos como fruto das religiões de matriz africana dos negros. Esse é o
Haiti e sua história de independência é pouco divulgada, ao contrário da
situação econômica da qual vive o país, principalmente depois das catástrofes da
natureza que passou a pouco tempo. Essa história aqui contada é para relatar
mais um exemplo de como as religiões de matriz africana sofrem preconceitos e
discriminação.
Historicamente a fé é justificativa para inúmeras
formas de violência. Foram cruzadas, guerras santas que aconteceram
justificadas numa fé que oprime, segrega e destrói. É difícil de entender que
uma fé religiosa é capaz de tudo isso, entendendo que o Deus ou Deuses das
quais essas pessoas acreditam, geralmente, não buscam a maldade, nem a
violência, tampouco a opressão e a discriminação.
Por tudo isso pensamos que é muito importante
falarmos sobre o Candomblé, a Umbanda e outras religiões de matriz africana com
o intuito de fortalecer o reconhecimento e o respeito. Nem sempre trataremos de
forma direta, mas invariavelmente iremos tocar nesse assunto.
Em nossas pesquisas, percebemos como a Umbanda e Candomblé
sofrem discriminação até por quem participa delas. Em alguns lugares visitados
por nós, foi perguntado sobre a religião que seguem. Muitos disseram ser
católicos, apesar de frequentar os terreiros, mas foi com muita veemência que
se disseram católicos.
No Grande Bom Jardim há uma grande quantidade de
terreiros, muitas vezes escondidos. Escondidos da sociedade, das autoridades,
da discriminação. Nossa busca é por respeito. Contra intolerância e toda forma
de discriminação. Contra o preconceito do interior, em favor do exterior. A
favor da vida, e vida em abundância.
1 comentários:
Peifeito!
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